Sistema FAEP

Com Trump, Paraná tende a crescer no agronegócio

Ministro do comércio exterior vê oportunidade de conquista de mercados para o Brasil com políticas restritivas dos EUA, um dos maiores exportadores mundiais de alimentos

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou na última segunda-feira, 23, a promessa de campanha de rever a participação do País em acordos comerciais com outras nações, algo que agentes de mercado ainda “pagavam para ver”. A saída dos EUA do Tratado Transpacífico de Comércio Livre (TPP, na sigla em inglês) foi considerada como uma oportunidade para o Brasil, conforme disse nesta quarta-feira, 25, o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira. Analistas ouvidos pela FOLHA acreditam que o movimento de Trump dá chance ao Paraná e ao Brasil para a conquista de novos destinos para exportações, principalmente de produtos alimentícios.

O presidente dos EUA cancelou, por decreto, a participação do país no TPP, um acordo que definia bases comerciais para 12 países banhados pelo Oceano Pacífico e que visava reduzir o poderio comercial da China na região. O ministro brasileiro vê, na concretização da promessa de campanha, a chance de o Brasil “fazer do limão uma limonada”. “Quando ele (Trump) sai do maior acordo de comércio do mundo, nós entendemos que, sobretudo na área do agronegócio, abre uma oportunidade grande para o Brasil”, disse Pereira, antes de completar que outros setores também podem ser beneficiados, durante a posse de servidores do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), no Rio de Janeiro.

Por outro lado, Pereira se mostrou preocupado com o fechamento da economia dos EUA, ainda mais em um momento em que o Brasil busca aumentar a quantidade de acordos bilaterais com outras nações e blocos. “Tivemos oportunidade de avançar no acordo Mercosul-União Europeia, no acordo Mercosul-EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio, formada por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein) e também vamos começar um diálogo com o Canadá e com outros países importantes para suprir o eventual fechamento da economia americana”, acrescentou.

PESO MENOR

Sempre com a ressalva de que o cenário segue nebuloso, o economista Roberto Zurcher, da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), afirmou que poucas exportações paranaenses têm os EUA como destino, o que diminui o peso de embargos impostos por Trump à região. “Como os Estados Unidos são grandes produtores e exportadores de alimentos e com a ameaça de Trump de impor barreiras a produtos de outros países, pode ocorrer uma retaliação e podemos ter uma vantagem”, disse. “O Brasil tem grande competitividade no mercado de alimentos e costuma preencher os espaços que aparecem”, completou.

O diretor-presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Julio Takeshi Suzuki Junior, lembrou que somente 5% dos produtos exportados em 2016 pelo Paraná foram para os EUA. O país é o terceiro principal destino dos produtos estaduais, bem distante da líder China e da vice Argentina. “Exportamos muita madeira e café solúvel para lá, que são artigos que eles não produzem. E, no caso da madeira, o Brasil pode se beneficiar com o prometido pacote de investimentos para os EUA, já que a madeira é usada na construção civil.”

Suzuki também considerou prematura qualquer tentativa de prever o que ocorrerá no comércio exterior neste ano. Para ele, o Paraná pode se beneficiar mais com uma eventual valorização dos produtos agrícolas pelo aumento da demanda internacional do que com um crescimento da produção. “O Paraná praticamente atingiu seu potencial produtivo, pela limitação de estar com quase todas as fronteiras ocupadas, mas o Brasil ainda tem muito para onde crescer.”

Zurcher completou que os movimentos no comércio exterior são lentos. “Ele (Trump) está fazendo o que prometeu e com muitos movimentos que não são bem aceitos por boa parte da população, mas não dá para prever o tamanho das restrições que vai impor e o impacto.”

O presidente do Ipardes afirmou ainda que, ao puxar a produção para dentro dos EUA, Trump pode fazer com que cresça a inflação local e isso eleve os juros por lá, o que teria reflexos em mercados por todo o planeta. “Apesar de existirem oportunidades para o Paraná, será negativo para o mundo. O comércio exterior foi muito mais positivo do que negativo aos países e, quando a maior economia virar as costas para o mundo e se volta para o mercado interno, isso significa um retrocesso”, disse Suzuki.

Fonte: Folha de Londrina

André Amorim

Jornalista desde 2002 com passagem por blog, jornal impresso, revistas, e assessoria política e institucional. Desde 2013 acompanhando de perto o agronegócio paranaense, mais recentemente como host habitual do podcast Boletim no Rádio.

Comentar

Boletim no Rádio

Boletim no Rádio