A colheita manual da uva na Província argentina de Mendoza caminha para o fim. Máquinas colhedoras da fruta funcionam 24 horas por dia para cumprir os objetivos traçados pelos produtores. Os equipamentos, que diariamente retiram do campo volume que exigiria o trabalho de cerca de 100 pessoas, caíram no gosto de quem planta e de investidores que acreditam que a mecanização é um caminho sem volta por conta dos custos e da falta de mão de obra.
Alguns produtores fizeram testes com colhedoras alugadas. Foi o que aconteceu na Bodegas Esmeralda, uma das maiores do país, que fabrica os vinhos da Catena Zapata e cultiva uva em 1,8 mil hectares em Luján de Cuyo, ao lado da Cordilheira dos Andes. A mecanização na empresa começou em 2003, mas a decisão pela primeira compra só aconteceu em 2012. Hoje ela usa duas máquinas, uma alugada e outra própria, para fazer a colheita em 600 hectares.
O diretor de vinhedos, Luis Reginato, diz que os equipamentos melhoraram com o tempo. Agora, ele espera redução de custos da colheita e diminuir outra preocupação. "Temos tido problemas para encontrar gente", conta, sobre a contratação de pessoal.
A questão não é simples de resolver porque nem todas as áreas cultivadas comportam a entrada da colhedora, seja pelo espaçamento entre as plantas ou espaço no fim da linha, para permitir o retorno da máquina que tem tanque graneleiro e despeja o que retirou dos plantios diretamente nas carretas que seguem para as bodegas.
Na linha de produção de bebida, Reginato mostra outra vantagem da máquina, que separa a uva do cacho e das folhas durante a colheita, processo que não acontece no trabalho manual. Quando o volume é grande, isso faz diferença. No ano passado, a empresa processou 80 mil toneladas de uva e produziu 60 milhões de litros de vinho. Ela exporta para 60 países e o Brasil ocupa a segunda posição no consumo de seus produtos, atrás dos Estados Unidos.
Mesmo quem produz menos uva tem buscado alternativa ao uso intensivo de pessoal. E encontra em empresários como Tomas Sánchez essa possibilidade. Ele é dono de hotel em Mendoza e, junto com dois irmãos, chegou à conclusão de que investir em colhedoras para locação seria bom negócio. Comprou uma máquina em 2011, outra em 2012 e planeja a aquisição da terceira para 2013. "É a tendência de colheita", afirma. "A mão de obra está cada vez mais difícil", complementa.
Sánchez tem 25 clientes, donos de propriedades com 20 a 30 hectares. Na semana passada, uma de suas máquinas colhia uvas malbec de um deles. Ele cobra de US$ 500 a US$ 600 por hectare mais o combustível, e planeja colher 350 hectares por equipamento em cada temporada, cerca de três meses. As máquinas que comprou custam US$ 380 mil cada e, somados os custos de manutenção e de empregados, o retorno do investimento é esperado daqui quatro anos.
Na Bodega Doña Paula, há quatro anos 15% da colheita era feita com máquinas. Hoje, passa de 60%, com máquina própria e alugada. A compra da primeira colhedora foi feita para a safra de 2012 e outra está nos planos para 2013. A empresa é dona de 700 hectares na Argentina, exporta 97% dos vinhos que fabrica, e também produz no Chile, com o nome Santa Rita. Miguel Miranda, encarregado da propriedade da empresa, conta que está com 25 pessoas fazendo a colheita manual. "Precisaríamos de 100 pessoas sem a máquina, mas me custa conseguir 30 delas".
De acordo com Edgardo Del Popolo, gerente de operações, na Doña Paula a colheita manual custa o dobro. Com máquina própria, a empresa gasta aproximadamente US$ 200 por hectare. Com aluguel, são cerca de US$ 500 por hectare e, manualmente, varia de US$ 600 a US$ 1 mil.
A ocorrência de vento e granizo deve reduzir o volume de produção de uva na Argentina em 2012, mas é esperada alta qualidade na atual safra. O país deve colher 2 milhões de toneladas da fruta, sendo 70% na região de Mendoza. O que acontece na província será usado como modelo pela fabricante de máquinas e equipamentos agrícolas New Holland no Brasil. Ela é líder em colhedoras de uva no país vizinho e, em 2011, vendeu 14 unidades da máquina Braud, importadas da França – um recorde, pois vendia apenas duas por safra.
Segundo Luis Poeta, gerente de território da New Holland na Argentina, o país tem atualmente 30 colhedoras de uva da marca e três de concorrentes. A intenção é aumentar para 60 em dois anos. Não há espaço para crescimento na França e na Itália, principais mercados. Por isso, as atenções estão voltadas para novos clientes.
A empresa planeja conquistar nos próximos anos os agricultores brasileiros que investem em uva, café e laranja. A New Holland vai apresentar uma máquina na Agrishow, tradicional feira que acontece em abril, e na Expocafé, em junho. A fabricante planeja criar kits para adaptar a máquina para cada cultura, como acontece na Europa.
João Rebequi, gerente de marketing de produto da New Holland, explica que menos de 5% da colheita de uva é mecanizada no Brasil. Um dos motivos é o uso de parreiras, que não permitem a passagem da máquina, em vez do sistema de espaldeiras. Ele acredita na maior aceitação da tecnologia por parte dos produtores de uva do Nordeste do que no Sul. É dado como certo que dez máquinas serão trazidas para o Brasil em 2013, para uso no café, mas o diretor não confirma o número e não revela detalhes dos planos para o país.
Fonte: Valor Econômico – por Marli Lima
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