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Clima volta a afetar a produção de feijão e preços sobem

Problemas na primeira safra em Minas Gerais e na segunda safra no Paraná irão prejudicar oferta do grão

Dificilmente os preços do feijão subirão, neste ano, aos alarmantes patamares observados em 2016. Mas, diferentemente do que se esperava, o mercado tampouco voltará ao normal, já que problemas climáticos estão novamente afetando a oferta, ainda que em menor intensidade do que na safra passada.

Frio e geadas no Paraná fizeram o feijão carioca subir 50% na última semana e 115% no acumulado do mês em São Paulo. A saca de 60 quilos está sendo negociada por R$ 350, ainda longe do pico de R$ 500 do ciclo 2015/16, mas Marcelo Lüders, analista da Correpar e presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), acredita que novas altas poderão ocorrer.

As geadas diminuíram a produtividade de lavouras paranaenses do grão carioca, e a colheita da segunda safra, que deveria estar acontecendo, está praticamente paralisada por causa das chuvas. “Achávamos que o raio não cairia duas vezes no mesmo lugar, mas estávamos errados”, diz Lüders.

O Paraná lidera a produção nacional na segunda safra de feijão (são três no total). O plantio no Estado se concentra entre fevereiro e março, enquanto a colheita é realizada entre maio e julho. “O Paraná é o único Estado capaz de atender à demanda brasileira nesse período”, afirma.

Além da queda da produtividade e da maior infestação de doenças fúngicas, a umidade torna os feijões enrugados, feios e com menos sabor. “No Paraná, 16% das lavouras estão em péssimas condições”, diz Jonathan Pinheiro, analista da Safras & Mercado, citando dados do Departamento de Economica Rural (Deral) da Secretaria de Abastecimento do Estado.

“Ainda é difícil dimensionar as perdas, mas estima-se que a quebra pode chegar a entre 10% e 15%”, diz Lüders. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê para colheita 624 mil toneladas de carioca na segunda safra, quando seriam necessárias 800 mil para atender à demanda.

Minas Gerais, outro importante produtor de feijão, mas principalmente no verão (primeira safra) também voltou a enfrentar problemas climáticos. “Sem chuvas, o plantio atrasou nas áreas de sequeiro e alguns produtores não semearam o grão. E nas áreas irrigadas, com menos água disponível, muitos pivôs não foram acionados”, afirma Lüders.

Com o problema em Minas, o Ibrafe calcula que a primeira safra de feijão carioca tenha ficado em 780 mil toneladas no país, menos do que estimava a Conab (858 mil). Os estoques estão calculados em 600 mil toneladas, menos que as 800 mil necessárias até a colheita de segunda safra tomar ritmo.

Lüders calcula, assim, que o país terá apenas 500 mil toneladas de feijão carioca em estoque até a terceira safra, que começará a ser colhida em outubro. “É exatamente a metade da demanda”. A produção da terceira safra está estimada em 640 mil toneladas, em linha com o volume dos últimos anos, desde que as chuvas beneficiem as plantações em Minas, Goiás e Bahia.

Levando-se em conta as três safras, a produção brasileira de feijão está estimada pela Conab em 3,33 milhões de toneladas em 2016/17, sendo 2,12 milhões do grão carioca. Mas o cobertor está curto, uma vez que o Brasil consome quase 2,6 milhões de toneladas por ano somente do carioca. “Teoricamente, com a atual safra retomaríamos o patamar de 2015. Mas desta vez, teremos mais caupi e preto, e assim não atendemos o gosto nacional”.

O consumo brasileiro per capita de todas as variedades de feijão é estimado em 17 quilos por ano. Mas em 2016/17, a oferta doméstica disponível deverá ficar perto de 14 quilos por habitante. Em 2015/16, aponta o Ibrafe, o consumo per capta ficou em 13 quilos.

Para resolver a questão, Lüders defende que o governo reduza novamente o imposto de 10% sobre as importações de países de fora do Mercosul, como foi feito em meados de 2016. “Não pleiteamos isso ainda devido ao período conturbado da política nacional”, diz. Ele afirma que há feijão disponível nos EUA e no México e que, como esses países têm calendários agrícolas complementares ao brasileiro, o intercâmbio poderia ser aprofundado.

Lüders defende políticas de incentivo ao consumo dos feijões caupi e preto. “Até 1969, cada área do Brasil consumia um tipo de feijão. Mas uma aposta errada da indústria e de outras entidades ampliou o cultivo de carioca. Ficou mais fácil ter um só padrão, mas erramos nisso. “O carioca só existe no Brasil. Se tivéssemos optado pelo pinto beans ou pelo rajado, teríamos um mercado internacional para disputar”, afirma.

Sem esse mercado internacional, mesmo diante do aumento dos preços de 2016, muitos agricultores ficaram receosos em apostar no feijão. “É mais fácil comprar sementes de soja ou de milho, mercados que têm grandes tradings e insumos financiados”, observa ele.

Nesse contexto, o Ibrafe tem feito reuniões com associações de supermercados para tentar emplacar as variedades menos consumidas. Fóruns e palestras também estão sendo promovidos para a indústria. E o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e a Embrapa já sementes nacionais de feijões tigres e rajados que podem ser plantados.

Fonte: Valor Econômico

André Amorim

Jornalista desde 2002 com passagem por blog, jornal impresso, revistas, e assessoria política e institucional. Desde 2013 acompanhando de perto o agronegócio paranaense, mais recentemente como host habitual do podcast Boletim no Rádio.

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