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“Ciclone bomba” deixa estragos em propriedades rurais do Paraná

Tempestade que atingiu o Estado no dia 30 de junho gerou destruição nas lavouras e máquinas agrícolas. Estragos em culturas foram pontuais

A tempestade que atingiu o Paraná no dia 30 de junho deixou diversos estragos em áreas rurais do Estado. Apesar de o “Ciclone Bomba”, como está sendo chamado pelos meteorologistas, não ter comprometido de forma generalizada nenhuma cadeia produtiva do agronegócio, centenas de produtores rurais contabilizam prejuízos que vão desde lavouras destruídas até danos em estruturas e máquinas agrícolas, conforme levantamento da FAEP junto aos produtores e sindicatos rurais.

O boletim do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab), aponta que houve estragos pontuais em lavouras de milho no Paraná. “Não é possível quantificar eventuais perdas neste momento, entretanto pontualmente em regiões específicas haverá redução da produtividade. O fator mais comum foi o acamamento das plantas o que pode dificultar a colheita ou resultar em perdas. Isso também pode gerar a perda de qualidade do cereal”, segundo o técnico responsável pelo cereal na entidade Edmar Gervásio.

Em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba, um dos municípios que mais produzem hortaliças no Estado, com muitos produtores praticantes de sistemas de cultivo protegido, diversas propriedades sofreram com avarias nas estruturas usadas para fazer as plantações.

Segundo Marcio Toniolo, secretário de Agricultura e Abastecimento do município, a prefeitura prestou auxílio aos produtores para remover entulhos e restabelecer as condições de produção e que vai seguir prestando apoio a quem necessitar. “Diante de todos esses contratempos, os prejuízos serão contabilizados para muitas famílias que dependem dessa prática. Por meio da Defesa Civil de nosso município, serão emitidos os laudos para que essas famílias possam, em alguns casos, acionar o seguro agrícola”, diz.

Em Ubiratã, na região Noroeste, onde é forte a colheita do milho safrinha nesta época, houve registro de cones de vento. Segundo o presidente do Sindicato Rural do município, Márcio Soares, cerca de 15% do cereal haviam sidos colhidos até o dia intempérie. “Foi tipo um furacão, então o lugar por onde passou e causou estrago foi bem concentrado”, afirma. Segundo o dirigente, esse corredor onde o prejuízo foi maior estava localizado entre as áreas urbana e rural, de modo que a cidade foi mais atingida do que as lavouras. O montante total das perdas não foi contabilizado pelos produtores até o momento.

A tempestade também provocou estragos significativos na região de Guarapuava, no Centro-Sul do Paraná. Lá, a chuva forte começou pouco antes das 15 horas, acompanhada de ventos fortes e, em algumas localidades, chegou a cair granizo. Uma das propriedades afetadas foi a do produtor rural Rodolpho Luiz Werneck Botelho, também presidente do sindicato rural do município. Ele conta que, em meio ao temporal, uma rajada de ventos intensa e mais concentrada destelhou dois barracões, um de 800 e outro de 550 metros quadrados, além de também ter danificado casas de funcionários. As telhas metálicas também atingiram um trator e uma colheitadeira.

“O vento estava forte o tempo todo, mas veio uma rajada extremamente forte, que durou uns 15 segundos. Destelhou 30% de cada um dos dois barracões, arrancou porta, levou telhas. Fez um baita estrago”, conta Botelho. “Meus funcionários estavam plantando trigo e cinco minutos antes do vendaval tinham voltado para o barracão. Passaram um baita de um medo, mas ninguém ficou ferido”, acrescenta. Ele estima que o prejuízo causado pelo temporal gire em torno de R$ 100 mil.

O presidente do Sindicato Rural de Guarapuava também recebeu relatos e fotos de estragos causados pela tempestade em outras propriedades da região. Na fazenda de outro produtor rural, o vendaval destelhou um barracão, cujas telhas também atingiram implementos agrícolas. Uma pecuarista leiteira também teve parte de um dos seus barracões destruído. Na lavoura de um vizinho de Botelho, as rajadas “deitaram” parte da plantação de milho safrinha, que já estava seco. “Além disso, em toda a região, tivemos o registro de muitas árvores caídas”, ressalta.

Perda de produtos

No município de Prudentópolis, também na região Centro Sul, as fortes rajadas de vento deixaram prejuízos principalmente para os produtores de leite e suinocultores. O vendaval derrubou árvores que atingiram redes elétricas, deixando várias propriedades rurais sem energia por horas. Muitos produtores, inclusive, relatam que estão sem energia até a quinta-feira (2) – mais de 48 horas depois da tempestade.

O produtor de leite Augustinho Andreatto não teve impactos diretos em sua propriedade. Porém, desde o dia da tempestade, muitos dos seus vizinhos estão sem energia elétrica, fazendo com que os produtores busquem ajuda na cidade e até mesmo improvisem “gambiarras” para tentar salvar a produção e manter as atividades. “Um vizinho suinocultor teve que pedir ajuda para os bombeiros trazerem água no caminhão para os animais, porque ele tem poço artesiano com bomba elétrica. Vi outro produtor que adaptou uma ordenhadeira”, relata.

Em relação ao uso de geradores, Andreatto aponta que a maioria dos produtores, por serem de pequeno porte, não possui o equipamento devido à inviabilidade financeira. Alguns locais na cidade oferecem o aluguel do aparelho, mas não são suficientes para manter a produção em pleno funcionamento.

O produtor de leite Itamar Cousseau está sem eletricidade desde que uma árvore caiu em cima da rede elétrica que alimenta a propriedade. “Eu liguei várias vezes para a Copel e eles falam que está em prioridade, mas ninguém apareceu”, alega.

Com uma produção de 2,5 mil litros de leite por dia e 115 animais, Cousseau está enfrentando dificuldades para realizar a ordenha das vacas e manter o armazenamento do leite. Neste período sem energia elétrica, ele estima que já perdeu o equivalente a 7 mil litros do produto.

“Quando caiu a energia e vi que não ia voltar, eu consegui um gerador emprestado em Castro, mas depois tive que devolver porque o dono precisou. Nesse tempo, as vacas ficaram 36 horas sem ordenhar. Até que foi restabelecida a energia do dono do gerador e consegui emprestado de novo, mas não está dando conta de fazer funcionar o resfriador junto com a ordenha”, explica o produtor.

Além dos prejuízos com o descarte do leite devido à falta de resfriamento, Cousseau preocupa-se com futuros problemas em relação à saúde dos animais que podem afetar a produtividade à longo prazo. “Provavelmente, na sequência, vamos ter casos de animais com mastite porque ficaram tempo demais sem ordenha. Posso ter um prejuízo ainda maior”, avalia.

Carlos Filho

Jornalista do Sistema FAEP/SENAR-PR. Desde 2010 trabalha na cobertura do setor agropecuário (do Paraná, Brasil e mundial). Atualmente integra a equipe de Comunicação do Sistema FAEP na produção da revista Boletim Informativo, programas de rádio, vídeos, atualização das redes sociais e demais demandas do setor.

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