Ao longo de quatro semanas, o Sistema FAEP/SENAR-PR colocou sua caravana na estrada. Formada por diretores e técnicos, a expedição passou por dez regiões do Estado, que receberam o 3º Encontro Regional de Líderes Rurais – Cultivando Conexões. Foram mais de 3,6 mil quilômetros percorridos, para levar aos produtores rurais conhecimentos sobre o funcionamento do sistema de representatividade, a atuação do SENAR-PR e, principalmente, estimular o desenvolvimento de novos líderes no campo. Tudo isso deu novo fôlego e ampliou a coesão da categoria.
Os números expressivos atestam a importância da iniciativa. Os dez eventos somaram 2.140 pessoas. Mas pode-se considerar que os efeitos são potencializados, já que cada um desses participantes foi desafiado a atuar como agente multiplicador – ou seja, a compartilhar os conhecimentos adquiridos com outros produtores. A expectativa do presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette, é de que essa mobilização se reverta em um “exército” no campo, em defesa dos interesses da categoria.
“Essas andanças mostram que estamos no caminho certo de multiplicar esse exército de pessoas, para que melhoremos a nossa representatividade na sociedade. Estamos dando novos passos para fortalecer esse trabalho conjunto. Temos que estar prontos para reivindicarmos os nossos direitos”, avalia Meneguette.
A julgar pelo que se viu nos encontros, esse “exército” já vê a preparação de novos líderes. É o caso de Thais Vitória Prestes Pedroso, de 18 anos, que participou do encontro em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Filha de produtores rurais de Colombo, também na RMC, e aluna de curso de técnico agrícola, ela é frequentadora assídua de cursos do SENAR-PR. Thaís fala com a desenvoltura de quem tem muito a contribuir com o setor agropecuário.
“A liderança sempre foi uma área em que atuei. Sempre mobilizo atividades no colégio, procuro levar novos cursos. Eu quero fazer a minha parte”, diz. “Além do conhecimento agregado para o produtor rural, os eventos proporcionam que a gente converse com outras pessoas, conhecendo outros produtores e outras rotinas”, acrescenta.
PSS
O Encontro Regional de Líderes Rurais não é uma ação isolada. A iniciativa faz parte do Programa de Sustentabilidade Sindical (PSS), lançado pelo Sistema FAEP/SENAR-PR em 2018, após o fim da contribuição sindical compulsória. Com o programa, a entidade vem estimulando os sindicatos rurais a pensarem em soluções que estreitem laços com os produtores e, de quebra, tragam sustentabilidade financeira às entidades. Em outra via, o PSS vem investindo na formação de novas lideranças e na capacitação de mobilizadores, funcionários e gestores de sindicatos rurais. A ideia é que os sindicatos sejam a porta de entrada para novos líderes.
Isso ocorreu com o fruticultor Rogério Negoseki que, alguns anos atrás, bateu à porta do Sindicato Rural de São José dos Pinhais, na RMC, em busca de capacitação. Essa aproximação não só resultou na otimização da sua produção de morangos e na gestão da propriedade, mas também provocou a aproximação com o sistema sindical rural.
Em 2019, Negoseki participou do curso-piloto “Liderança Rural”, dentro do PSS. A partir dali, o fruticultor passou, cada vez mais, a participar das tomadas de decisão da categoria em sua região. Hoje, Negoseki é um dos diretores do sindicato rural e de uma cooperativa de fruticultores do município.“Oportunidades, como as desse encontro, abrem a mente da gente para coisas novas, para coisas que podemos agregar na vida e também em prol da coletividade. A gente sai diferente desses encontros”, define o fruticultor. “O produtor precisa de alguém que o represente. E essa representação se faz pelo sindicato”, aponta.
Evento
O encontro se estruturou em três blocos. Sob o tema “Liderança”, conduzido pelo consultor Claudinei Alves, a dinâmica estimulou os participantes a refletirem a representatividade a partir de um problema real: a recente tentativa do governo do Paraná de taxar produtores por meio de um Projeto de Lei, enviado à Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) no final do ano passado, que prevê a criação de um fundo de manutenção às estradas. A proposta deveria tramitar em regime de urgência.
O setor agropecuário, no entanto, se mobilizou rapidamente. A FAEP acionou sindicatos rurais que, por sua vez, conclamaram produtores rurais de suas bases e pressionar os deputados estaduais. Paralelamente, a Federação promoveu uma interlocução direta com os parlamentares, apontando que o projeto oneraria o agronegócio e que a medida seria injusta, já que previa que apenas um setor da sociedade arcasse com os custos. A pressão deu certo: o governo retirou a urgência do projeto.
“Esse foi um exemplo claro. Como nosso setor reagiu, as autoridades acharam por bem retirar a urgência. Isso mostra que se não tivéssemos reagido de forma organiza da, poderíamos estar pagando uma taxa injusta. Precisamos estar cada vez mais organizados e com participação na sociedade, para termos boa representação e não sermos penalizados”, aponta Meneguette.
A partir desse exemplo, Alves esmiuçou o funcionamento do sistema de representatividade, que começa pelos sindicatos rurais (em âmbito municipal), passa pela Federação (que exerce a representação estadual) até a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que defende os interesses da categoria em nível nacional.
A agricultora Mônica Ienkot, por exemplo, ficou satisfeita com os conhecimentos adquiridos ao longo da dinâmica. Produtora de camomila em São José dos Pinhais, na RMC, ela pretende ficar ainda mais atenta em relação aos temas que impactam o setor.
“Me sinto motivada a participar mais, pela importância das informações abordadas. Esse tema da taxação foi excelente. É superimportante a nossa atuação”, completa.
Chamado “Aprendizagem”, o segundo bloco teve como foco a capacitação do setor agropecuário. Em dinâmica conduzida pelos técnicos do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR Alexandre Lobo Blanco e Helen Raksa, os participantes puderam compreender a fundo o trabalho de mobilização dos sindicatos para viabilizar a oferta de cursos nos 399 municípios do Paraná.
Por fim, o coordenador do Departamento Técnico e Econômico (DTE), Jefrey Albers, e o gerente do Departamento de Planejamento e Controle, Henrique Salles Gonçalves, fizeram uma apresentação focada na “Representatividade”. Eles aprofundaram conceitos trazidos no primeiro bloco, comparando o sistema sindical com uma pirâmide: na base, estão os produtores rurais; na camada seguinte, os sindicatos rurais; em seguida, a Federação; e, no topo, a CNA.
Mulheres são quase 60% nos eventos
Nos salões em que se realizaram os dez eventos, mais uma vez elas não passaram despercebidas. As mulheres foram maioria no 3º Encontro Regional de Líderes Rurais – Cultivando Conexões, respondendo por 58% das participações. Em algumas regiões, a presença feminina foi ainda mais significativa: em Campo Mourão, no Noroeste do Estado, 70% dos presentes eram mulheres; em Pato Branco, no Sudoeste, e em Toledo, Oeste, o público feminino foi de 63% do total.
Na programação, elas tiveram um momento exclusivo. Em cada município, uma das integrantes da Comissão Estadual de Mulheres da FAEP (CEMF) falou sobre a atuação do colegiado, que tem se destacado pela participação e representatividade em todo o Paraná. Ao fim de cada apresentação, as mulheres entoavam o grito-símbolo do grupo: “O Paraná precisa de nós!”.
Além de sua atuação, a CEMF tem estimulado a formação de grupos municipais. Hoje, o Paraná conta com 61 comissões locais de mulheres, que somam mais de 2 mil participantes. “A meta é chegarmos a 100 comissões locais de mulheres, para fortalecer, cada vez mais, a nossa representatividade. Sonho em ver essas comissões, por exemplo, discutindo em nível municipal como vamos melhorar o ensino, a saúde e o atendimento da sociedade. Tudo isso, por meio da representação”, aponta Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR.
Comentar