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Capitalizado, produtor ainda segura a soja

Diante da previsão de colheita recorde nos Estados Unidos, os agricultores brasileiros não demonstram interesse em acelerar as vendas da commodity

488Apesar da sinalização de que os preços da soja tendem a cair no segundo semestre de 2014, diante da previsão de colheita recorde nos Estados Unidos, os agricultores brasileiros não demonstram interesse em acelerar as vendas da commodity. De maneira geral, as negociações do atual ciclo 2013/14 ainda estão atrasadas em relação à temporada passada e a comercialização antecipada da nova safra custa a deslanchar.

A lentidão das vendas domésticas de soja tem sido uma marca de 2013/14, principalmente porque os produtores do país estão capitalizados após sucessivas safras de boa rentabilidade – o que lhes dá fôlego financeiro para estocar a oleaginosa, na expectativa de novas valorizações. Alguns agricultores mantêm os olhos no enxuto estoque americano para justificar a aposta arriscada de “sentar” sobre a soja, mas esse argumento também tem perdido sustentação.

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Ontem, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indicou que havia 11,02 milhões de toneladas nos estoques do país em 1º de junho, 7% menos que no mesmo momento de 2013. A expectativa do órgão é que o país encerre a safra 2013/14, ao fim de agosto, com apenas 3,4 milhões de toneladas nos armazéns, 11% abaixo do ciclo anterior. Mas o fato é que a área plantada com a oleaginosa no ciclo 2014/15 deve ser recorde nos EUA, o que enche de nuvens escuras o horizonte de preços – em junho, as cotações da soja na bolsa de Chicago já recuaram quase 5% ante maio.

“Já não sei se é capitalização ou teimosia o motivo [do atraso nas vendas]. O produtor brasileiro tinha que estar vendendo mais a esta altura”, diz João Claudio Pereira da Silva, diretor da Grãomar Corretora de Mercadorias, de Maringá (PR). De acordo com Silva, há compradores em sua região oferecendo R$ 65 por saca no mercado disponível, mas os agricultores querem algo em torno de R$ 68. O corretor ainda não fechou nenhum contrato da safra 2014/15, que começará a ser plantada em setembro. “Ocorre que a safrinha [de milho] já começou a ser colhida e não vai ter armazém para toda essa soja e esse milho que o pessoal está querendo guardar”, afirma.

A consultoria Céleres estima que 69% da safra 2013/14 de soja já tenham sido comercializadas, aquém dos 77% do mesmo período do ano passado. Nos últimos dois meses, as vendas evoluíram somente 9 pontos percentuais.

No Paraná, embora as vendas estejam percentualmente à frente do ano passado (73%, ante 71%), o volume negociado no acumulado desta temporada é menor. “Houve quebra de produção, em função de problemas climáticos”, explica Aline Ferro, analista da Céleres. O Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral) prevê uma colheita de 14,54 milhões de toneladas de soja no Estado, 8% abaixo da temporada 2012/13.

Em Mato Grosso, maior produtor nacional da oleaginosa, 77% da safra estão vendidas, frente aos 90% de um ano atrás, nas contas da Céleres. De acordo com Leonir Christ, da Seeds Corretora, situada no município mato-grossense de Primavera do Leste, as vendas antecipadas do ciclo 2014/15 também estão paradas. “Esporadicamente, sai alguma troca por insumos”, diz.

Christ conta que um dos motivos para a resistência do agricultor é a paridade de troca. Segundo ele, vender hoje a soja que ainda será plantada é uma operação inviabilizada pelo custo, porque a commodity está com preços mais baixos, e os insumos, com preços mais altos. “Uma boa relação de troca aqui na região é de cerca de 20 sacas de soja por tonelada de adubo, mas atualmente está 15% a 20% acima disso”, explica ele.

Ainda conforme o corretor, no mesmo período do ano passado, mais de 15% da safra nova já estavam comprometidas em Primavera do Leste. Christ diz que, com a demora em se decidir pela venda, muitos produtores terão seu poder de barganha diminuído. “Quem chega no limite do plantio sem os insumos, terá de comprar a qualquer preço”, avalia.

Ele acredita que os agricultores optem por esperar até que a indústria entre em um período mais crítico, entre outubro e novembro, mas o risco de preços deprimidos naquele momento será ampliado pela concorrência com a soja americana, que começa a entrar no mercado em setembro. “E bastam dois anos de cotações ruins para que todo o caixa feito nos últimos anos vá por água abaixo”, conclui.

Fonte: Valor Online – 01/07/2014

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