Sistema FAEP

Cana-da-açúcar: amargo prejuízo

Os custos de produção de cana própria pelas usinas em todas as regiões foram superiores aos preços potenciais que seriam pagos pelo próprio produto

Por Maria Silvia Digiovani, engenheira-agrônoma do Departamento Técnico Econômico (DTE) da FAEP

Fornecedores e usinas de cana-de-açúcar  enfrentaram prejuízos na safra 2013/2014 e o cenário indica a mesma situação para a safra 2014/2015 que terminará em março do próximo ano. É o que mostraram os resultados dos custos de produção de cana e derivados referentes a safra 2013/2014 e os primeiros dados para projeção dos custos da safra 14/15, divulgados por pesquisadores do Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas –(PECEGE–ESALQ/USP) em seminário realizado em 29 de setembro de 2014 em Piracicaba–SP.

Para determinar os custos foram realizadas reuniões com fornecedores de cana vinculados aos sindicatos rurais das principais regiões canavieiras do país e os custos industriais foram levantados através de entrevistas com usinas de açúcar e etanol, nos seguintes estados das regiões produtoras: São Paulo e Paraná na região Centro Sul Tradicional, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso,  Minas Gerais na  região Centro Sul Expansão e Paraíba, Alagoas e Pernambuco no Nordeste. No Paraná os dados dos fornecedores foram levantados em reunião nos sindicatos rurais de Jacarezinho e Porecatu.

Recorde negativo

Segundo os dados apresentados no Seminário, mesmo com a melhora de alguns parâmetros em relação a safra anterior, a safra 2013/2014 apresentou o pior resultado para as indústrias desde a safra 2008/2009, espraiando os reflexos negativos para os fornecedores de cana.

Os custos  de produção de cana própria pelas  usinas em todas as regiões foram  superiores aos preços potenciais que seriam pagos pelo próprio produto  caso fosse remunerado pela quantidade e preço do ATR. Para as indústrias, na safra 2013/2014  teria sido mais vantajoso adquirir a cana de fornecedores do que produzir a própria cana. Ver quadro 1.

Parte dessa  situação deve-se ao aumento na implantação de  mecanização de plantio e colheita por parte das indústrias, o que gera custos iniciais de produção mais elevados.

As margens do açúcar foram melhores que as do etanol, embora tenham sido negativas para os dois produtos, exceto o açúcar branco no Nordeste que gerou margem positiva de 5,1%. Esse quadro é reflexo de aumentos de custos de produção, queda de preços do açúcar, preço do etanol abaixo do custo de produção, aliado a condições climáticas adversas.

 Conforme o quadro 1, para os fornecedores de cana os dados mostram que considerando os preços recebidos, houve uma pequena margem na região tradicional e de expansão ,levando em conta apenas Custo Operacional Total ,COT ( desembolsos).

Porém, ao considerar o Custo Total (CT), que soma a remuneração do capital ao COT, o resultado da atividade foi negativo para os fornecedores de cana das 3 regiões.

É um fato preocupante, uma vez que demonstra aos fornecedores a  inviabilidade econômica da atividade a médio e longo prazo em todas as regiões e já a curto prazo na região nordeste.

 

Quadro 1

 

SAFRA 2013/2014

Centro Sul Tradicional

 ( 80 t/ha)

Centro Sul Expansão

(84 t/ha)

Nordeste

(52 t/ha)

R$/t R$/ha R$/t R$/ha R$/t R$/ha

CUSTO DE PRODUÇÃO DE CANA DOS FORNECEDORES

Custo Operacional

Total (COT)

Desembolso+depreciação

59,12 4.729,60 55,04 4.623,36 81,29 4.227,08
Remuneração da terra+ remuneração do capital 17,44 1.395,20 9,36 7867,24 14,02 729,04
Custo Total (CT) 76,56 6.124,65 64,40 5.409,65 95,31 4.956,25
Preço da cana 60,94 4.875,20 60,85 5.111,40 67,19 3.493,88
Margem (preço-COT) 1,82 145,60 5,81 488,04 -14,09 -732,68
Lucro (preço-CT) -15,62 -1.249,60 -3,55 -298,20 -28,12 -1.462,24

CUSTOS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA DAS USINAS  (CANA PRÓPRIA)

Custo Operacional Total  (COT)

70,09 5.690,00 71,26 5.623,00 75,69 4.851,00

CustoTotal

(CT)

81,24 6.595,00 79,73 6.325,00 91,43 5.860,00

 

Os quadros 2 e 3 mostram o custo de produção  margens do açúcar e etanol

 

   Quadro 2 – CUSTO DE PRODUÇÃO, PREÇO E MARGENS DO AÇÚCAR BRANCO E VHP

AÇÚCAR BRANCO

Centro-Sul Tradicional

Centro-Sul Expansão

Nordeste

Custo total (R$/t)

932,75

913,08

1.040,60

Preço (R$/t)

930,60

897,51

1.093,94

Margem

-0,2%

-1,7%

5,1%

 AÇÚCAR VHP

Centro-Sul Tradicional

Centro-Sul Expansão

Nordeste

Custo total (R$/t)

887,14

886,96

1.016,74

Preço (R$/t)

839,28

858,15

883,52

Margem

-5,4%

-3,2%

-13,1%

 

Quadro 3 – CUSTO DE PRODUÇÃO, PREÇO E MARGENS DO ETANOL

ETANOL ANIDRO 

Centro-Sul Tradicional

Centro-Sul Expansão

Nordeste

Custo total (R$/m³) 1.460,93 1.467,63 1.721,19
Preço (R$/m³) 1.342,06 1.419,98 1.532,35
Margem -8,1% -3,2% -11,0%
ETANOL HIDRATADO

Centro-Sul Tradicional

Centro-Sul Expansão

Nordeste

Custo total (R$/m³) 1.374,03 1.377,16 1.633,56
Preço (R$/m³) 1.216,18 1.234,44 1.345,73
Margem -11,5% -10,4% -17,6%

 

-Projeções de custo e rentabilidade para a safra 2014/2015

Segundo  estimativas do boletim Ativos do Campo (CNA/PECEGE) , considerando o banco de dados do PECEGE, informações ÚNICA e Consecana SP e  informações levantadas com usinas em abril 2014, a rentabilidade para a produção de cana sobre o custo total  na safra 14/15 é negativa para 12 cenários criados, de pessimista a otimista, combinando estimativas de produtividade  da cana e preço de ATR. 

Considerando o cenário de preço de ATR a R$0,500/kg os produtores de cana somente obterão rentabilidade positiva sobre o custo total se a produtividade for superior a 115 toneladas/hectare.  O PECEGE divulgou os dados preliminares do levantamento dos custos da safra 2014/2015 nas regiões dos municípios acompanhados no Paraná – Jacarezinho e Porecatu, mostrando que a projeção é de prejuízo para a safra de cana em andamento (2014/2015), com margem e lucro negativos. Os custos de produção aumentaram e o preço do ATR diminuiu em função  dos baixos preços do açúcar e etanol.

A continuar a mesma situação de preços, o valor recebido pela cana não cobrirá nem o custo operacional, ou seja, o valor desembolsado para implantação, tratos culturais, colheita e remuneração do produtor, demonstrando inviabilidade econômica já no curto prazo.

Para reverter a situação é necessário aumento de produtividade e recuperação de preços do etanol e açúcar que reverterá em aumento do valor do ATR, o que não  parece viável para a safra 14/15.

INDICADORES DA PROPRIEDADE MODAL  DOS FORNECEDORES

 propriedade modal é o tipo de propriedade mais comum na região considerada, a saber:.

– Região Centro Sul Tradicional : propriedade com 170 ha cultivados com cana; produtividade média de 80 t/há; 133,28 kg de ATR/t e valor de ATR R$ 0,4572/kg .

– Região Centro Sul Expansão: propriedade com 550 ha cultivados com cana; produtividade média de 84 t/há; 133,10 kg de ATR/t e valor de ATR R$ 0,4572/kg .

Região Nordeste: propriedade com  143 ha cultivados com cana; produtividade média de 52 t/ha;126,14 kg de ATR/t e valor de ATR= R$ 0,5408/kg .

 

INDICADORES DAS USINAS MODAIS

-Região Centro Sul Tradicional (44 usinas pesquisadas) área total com cana=19.198 ha; produtividade média=81,2 t/há; 2.207.000 t processadas na safra; 131,31 kg ATR/t cana processada; 133,97 kg ATR/t cana dos fornecedores; R$0,4572/kg de ATR.

-Região Centro Sul Expansão (38 usinas pesquisadas) área total com cana=21.643ha; produtividade média=79,3t/ha; 2.054.000 t processadas na safra; 133,26 kg ATR/t cana processada; 135,57 kg ATR/t cana dos fornecedores;R$0,4572/kg de ATR.

-Região Nordeste (16 usinas pesquisadas) área total com cana=11.237ha; produtividade média=64,1t/ha; 1.042.000 t processadas na safra; 128,29 kg ATR/t cana processada; 131,24 kg ATR/t cana dos fornecedores; R$0,5304/kg de ATR.

 

 

 

 

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