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Campo vende pouco crédito de carbono

Campo vende pouco crédito de carbono

Apesar de o mercado de créditos de carbono já ser uma realidade na indústria, no agronegócio a prática ainda não faz parte da rotina. Especialistas acreditam que o segmento é promissor para os negócios, que podem ultrapassar no Brasil a casa dos US$ 50 bilhões até 2030. No entanto, ressaltam que muito ainda precisa ser feito para que ele se transforme em alternativa de renda para os empresários do setor. Em Minas Gerais, as atividades de silvicultura e suinocultura são as mais avançadas nesta área.

De acordo com o engenheiro agrônomo, especialista em integração lavoura-pecuária-floresta e sistemas de plantio direto, Ronaldo Trecenti, no âmbito nacional o uso dos créditos de carbono no campo são apenas projeto. Conforme ele, um ou outro já está sendo executado em termos de plantio florestal, dejetos suínos ou avicultura, por parte de grandes empresas. Mas os pequenos e médios agricultores, mesmo fazendo plantio direto ou integração entre as atividades, ainda não conseguem o crédito.

"As tratativas precisam ser lapidadas, a começar pela medição da quantidade de carbono que é sequestrada do meio ambiente, porque isso varia de acordo com a propriedade, região ou atividade. Além disso, é preciso também estabelecer uma metodologia para que haja maior credibilidade do trabalho, o que gera muita burocracia. O processo precisa ser, ao mesmo tempo, completo, preciso e prático e isso tem dificultado", explica.

Longo prazo – Por isso, ele admite que este cenário, com um mercado estabelecido, somente será possível no longo prazo, entre 20 anos e 50 anos. "Isso ocorrerá também na medida que os serviços ambientais passarem a ser mais demandados e reconhecidos pela sociedade. Precisamos mensurar, quantificar e acreditar que estamos gerando serviço ambiental. Por enquanto, estamos fazendo por fazer. Mas ao passo em que os recursos ambientais forem acabando, vamos valorizar mais quem faz", completa.

Mesmo assim, o especialista é otimista e afirma que o país já conta com tecnologias interessantes que trabalham a questão ambiental e reduzem a emissão de gases de efeito estufa. São elas: plantio direto, integração entre lavoura-pecuária-floresta e uso de dejetos animais. Inclusive, algumas em estágio bastante avançado, como plantio direto e fixação biológica de nitrogênio. Mas os demais precisam ser ampliados. "O potencial é enorme", diz.

Ele lembra que o governo federal criou, em 2009, o Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), com o objetivo de buscar alternativas de baixa emissão de carbono, visando assegurar a adoção de tecnologias que proporcionem a recuperação da capacidade produtiva dos solos, o aumento da produtividade e a redução da emissão de gases.

Metas foram estabelecidas a serem cumpridas até 2020. Entre elas a recuperação de uma área de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas; adoção do sistema de integração lavoura-pecuária-floresta em 4 milhões de hectares; ampliação do uso do sistema plantio direto em 8 milhões de hectares; e incremento do plantio de florestas econômicas em 3 milhões de hectares. "O programa caminha, mas caminha devagar. E neste ritmo não será possível cumprir as metas até 2020", alerta.

O secretário-adjunto da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Paulo Romano, concorda que as práticas de créditos de carbono no campo ainda são inexpressíveis, exceto por algumas empresas que trabalham de maneira integrada com a indústria. Conforme ele, os destaques na agropecuária de Minas, quando o assunto é crédito de carbono, são a suinocultura e a silvicultura.

Estímulos – Paulo Romano também destaca que faltam estímulos ao produtor e metodologia de ação. Para ele, este é o principal motivo de o processo estar atrasado no Brasil. "No Estado, o governador até chancelou uma metodologia de indicadores de sustentabilidade em agrossistemas, que permite um pouco dessa dimensão para os serviços ambientais. Mas ainda sem compensações", revela.

Além disso, o secretário-adjunto cita o Bolsa Verde, que apoia a conservação da cobertura vegetal nativa em Minas Gerais, mas admite que o mesmo não tem a dimensão que se pretende atingir quando se fala em emissão de gases do efeito estufa. "? um exemplo de que é possível, mas que está longe de atender", admite.

Neste sentido, Paulo Romano reitera que é preciso que as políticas públicas partam das esferas nacional, estadual e municipal, sem muita dependência das decisões internacionais. "Mais do que tudo isso, é preciso difundir a questão para que o agricultor entenda, de uma vez por todas, que com essas práticas ele não está apenas contribuindo para com a biosfera. Antes disso, ele é um beneficiado", conclui.

MARA BIANCHETTI
Diário do Comércio

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