O agronegócio do Brasil dribla o cenário de retração econômica nacional e promete continuar no campo positivo até o fim do ano. No âmbito estadual, porém, onde o Produto Interno Bruto (PIB) teve evolução praticamente nula até agora, a tendência é de recuo no setor. Essa contradição acontece, principalmente, porque o estado foi o mais afetado pela seca do verão passado.
A agropecuária não acompanhou a variação negativa de 0,6% no Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre deste ano, que configurou um cenário de recessão técnica no país. O indicador divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou aumento de 0,2% na atividade dentro da porteira.
Considerando toda a cadeia produtiva que inclui indústrias, transporte e outros serviços , a previsão também é de crescimento, mesmo com a perspectiva de preços mais baixos para commodities como soja e milho, que tendem a pressionar a renda do produtor já nesta safra. A maior parte da comercialização da soja, por exemplo, ocorre no primeiro semestre.
A atividade rural vai continuar atenuando o impacto da retração econômica do país até o final do ano, indica Adriana Silva, pesquisadora da área de macroeconomia do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), vinculado a Universidade de São Paulo (USP). O agronegócio não vai compensar, mas pode impedir que resultados negativos sejam mais expressivos. Isso já ocorreu no primeiro semestre, avalia.
Em paralelo às previsões do IBGE, o Cepea calcula um índice que pondera o desempenho de toda a cadeia produtiva, incluindo setores como insumos, distribuição e agroindústria. Batizado de PIB do Agronegócio, o indicador terminou o primeiro semestre deste ano com alta de 1,9% ante 2013.
As perspectivas de aumento da produção para o conjunto das atividades agropecuárias explicam o resultado positivo, complementa Adriana. O Cepea estima que é possível fechar o ano com uma expansão próxima de 3,8% em 2013 o índice registrou elevação de 3,9%.
Recuo estadual
No caso específico do Paraná, o resultado econômico da agropecuária tende a seguir na contratendência. A explicação está nos problemas climáticos que comprometeram parte da safra do verão de 2013/14, indica o economista do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) Francisco José Gouveia de Castro. O clima consumiu mais de 1 milhão de toneladas de grãos.
Como o PIB é calculado com base no ano civil e o resultado da safra recorde de soja que começa a ser plantada será contabilizado em 2015 , a tendência é de que a atividade agrícola trabalhe no campo negativo neste semestre, detalha Castro. As cotações de praticamente todos grãos de inverno e verão estão abaixo das registradas na primeira metade do ano. As altas resumem-se à arroba do boi, ao quilo do suíno e ao café.
O Ipardes faz a previsão para o PIB estadual com o mesmo método do IBGE e diagnosticou crescimento de 0,1% na economia estadual no trimestre abril-junho. Apesar disso, a atividade agropecuária (dentro da porteira) caiu 4,3%.
O fato de a safra de inverno render volume maior que o do ano passado é um fator positivo, apesar do rebate que a queda nos preços representa, avalia o especialista do Ipardes. Caso o Paraná não tenha problemas nos cultivos de verão, Castro indica que os efeitos serão notados no primeiro semestre de 2015.
Queda de preços pressiona renda bruta do campo
O cenário de preços mais baixos para as commodities agrícolas vai pesar sobre o resultado do Valor Bruto da Produção (VBP) deste semestre e de 2015. O índice mensura a riqueza produzida dentro da porteira, com base no volume produzido e nos preços da comercialização. Ao contrário do Produto Interno Bruto (PIB), o indicador não sinaliza crescimento econômico, num cenário global de aumento da oferta e dos estoques.
A estimativa mais recente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o VBP aponta que o índice vai crescer, mas em ritmo bem mais fraco do que o esperado e abaixo dos índices registrados nos últimos anos. A receita bruta nacional será 2,1% maior do que em 2013, chegando a R$ 442 bilhões, conforme o Mapa. A taxa de expansão é a menor desde 2010, quando o avanço foi de 4%.
Para o Paraná, a previsão do Mapa é de queda de 9,4% no VBP, para R$ 45,8 bilhões. A queda será puxada por produtos como soja (-11,9%), milho (-33,1%) e cana-de-açúcar (-4,4%).
A pesquisadora Adriana Silva, da área de macroeconomia do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), afirma que o VBP superestima tanto a renda como o lucro dos produtores rurais. Ela argumenta que a queda de preços influencia o resultado do VBP e o PIB.
No caso deste segundo indicador, uma inversão de tendência exigiria variação no preço dos insumos. Em geral, num caso como esse [preços mais baixos], o PIB do agronegócio, por envolver os demais segmentos insumos, agroindústria e distribuição tende a cair menos, acrescenta.
Fonte: Gazeta do Povo – 16/09/2014
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