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Brasil pede que a Rússia adie embargo a frigoríficos

O governo russo tem, até aqui, rejeitado o pedido pessoal feito pelo vice-presidente Michel Temer ao primeiro-ministro Vladimir Putin para adiar o embargo temporário da Rússia às carnes brasileiras previsto para entrar em vigor amanhã.

O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, afirmou ontem que o Brasil atendeu a "todos os pontos" de "não conformidades" apontados por uma missão veterinária russa em 85 frigoríficos brasileiros. "Pedimos um waiver [prazo], mas não tivemos resposta. Pediram para atender a 18 pontos e análise planta por planta", informou. "Fizemos as duas coisas. Vamos mandar isso antes de ir à Rússia. E esperamos que autorizem nossa ida".

O ministério informou ter feito novas auditorias em todas as plantas e enviado a lista de unidades habilitadas a exportar carnes ao parceiro comercial. A principal queixa russa é a falta de testes laboratoriais para alguns resíduos e contaminantes nas carnes brasileiras – inclusive para elementos radioativos, como césio e estrôncio.

Na segunda-feira, antes do posicionamento do ministro brasileiro ontem em Brasília, o serviço veterinário russo publicou, em seu site, que o Brasil ainda não tinha respondido à solicitação da Rússia para que o país corrigisse problemas detectados durante a inspeção aos estabelecimentos exportadores de carnes em abril passado.

Na semana passada, Temer enviou carta a Putin cobrando o cumprimento do acordo firmado por ambos em meados de maio. Em declaração conjunta, assinada em Moscou, os dois acordaram que nenhuma medida unilateral sanitária seria tomada antes de consultas bilaterais.

Mas os russos, insatisfeitos com o "corpo mole" do Brasil no processo de entrada do país asiático na Organização Mundial do Comércio (OMC), resolveram retaliar. Em várias reuniões com Temer, os russos disseram esperar uma posição mais "proativa" do Brasil nessas negociações.

Em tom mais ameno do que o adotado na semana passada, quando acusou a medida russa de "atropelo", o ministro Rossi informou ter insistido, "por meios diplomáticos", no adiamento do embargo. "É uma situação grave, difícil, para a suinocultura nacional", afirmou. E apelou para a boa vontade russa no caso. "Vamos dialogar", disse.

Uma missão do ministério deve viajar a Moscou até o fim da próxima semana. Antes, Rossi havia dito que "alguns técnicos" do ministério haviam informado a cúpula do governo que o relatório russo que ancorou o embargo tinha um "caráter pré-determinado". Ou seja, haveria uma determinação do governo russo em encontrar problemas nos frigoríficos brasileiros. "Houve uma circunstância peculiar", afirmou, na semana passada.

Em Genebra, as negociações da Rússia com o Brasil, Argentina e outros exportadores de carnes, envolvendo a entrada da primeira na OMC, não tiveram progresso ontem. Moscou não melhorou as condições de acesso ao seu mercado para as carnes. Basicamente, reafirmou o tratamento que planeja dar para as cotas de importação. Diante da reação de vários países, acenou com ideias não muito claras, como ter diferentes sistemas para diferentes produtos a partir de um certo período.

Não parecem certas nem as cotas para os americanos e europeus, já que os outros exportadores são contra esse sistema.

As negociações vão prosseguir nas próximas semanas. Putin estará hoje em Genebra, para discursar na Organização Internacional do Trabalho (OIT), mas ele sabe que será complicado acessar a OMC até o fim do ano se não fizer concessões em troca da entrada de seus produtos em 154 países. (Colaborou Assis Moreira, de Genebra).

Fonte: Valor Econômico

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