No final de 2019, o preço do bovino atingiu patamares impressionantes, batendo recordes nominais e reais. O setor, que iniciou aquele ano com a arroba sendo negociada a R$ 149, fechou o ano com as cotações batendo em R$ 231. As exportações deram suporte a esta valorização. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), os volumes embarcados em 2019 alcançaram 1,8 milhão de toneladas, proporcionando receita da ordem de US$ 7,59 bilhões, recorde de volume e também de faturamento. Um crescimento de 12,4% e 15,5%, respectivamente, em relação ao ano anterior, segundo a entidade.
A China, principal destino da carne brasileira, foi responsável por 26,7% do total exportado pelo Brasil. Atrás dela vieram Hong Kong, União Europeia (UE) e Egito. Porém outros compradores se destacaram, como os Emirados Árabes Unidos, que dobraram o volume embarcado em 2019. Se em 2018 o país importou 36,8 mil toneladas de carne brasileira, no ano seguinte foram 71,3 mil toneladas.
Esse movimento de alta animou pecuaristas de todo país e mexeu com as estratégias de criadores e frigoríficos. Porém, passado o momento inicial, este mercado voltou a se ajustar e hoje a arroba do boi vem sendo negociada no Paraná na casa dos R$ 180. Mesmo que ainda seja um valor considerado atrativo, a situação suscita um questionamento pertinente: para onde vai a arroba do boi?
Vale lembrar que os bons resultados amealhados no último trimestre de 2019 não representam necessariamente um resultado inédito. Existe um efeito sazonal de mercado – marcado pelas festas de final de ano, pagamento do 13º salário, e consequente aumento de consumo – que eleva a demanda pela carne bovina, fazendo pressão para a subida de preço. O que ocorreu no ano passado é que, somado a este efeito, houve demanda adicional do mercado internacional, principalmente da China, que em setembro habilitou novas plantas industriais brasileiras para exportação.
“Em geral, temos preços maiores no segundo semestre e os picos de preço em meados do último trimestre. A oferta de gado no pasto fica escassa no segundo semestre, entra o gado de confinamento, que é mais caro, e diminui a oferta disponível no mercado spot”, explica o médico veterinário e consultor da Scot Consultoria, Hyberville Neto.
Na avaliação do consultor, o cenário é positivo para o setor em 2020, por conta de três fatores principais. “Nossa expectativa é de que o mercado trabalhe firme ao longo do ano. Existe uma perspectiva positiva em relação ao consumo doméstico, que deve se recuperar. Além disso, esse é um ano de retenção de fêmeas no ciclo pecuário, o que diminui a oferta de animais como um todo. Por fim existe a expectativa de a China continuar comprando bastante”, observa o consultor.
Para o presidente da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da FAEP, Rodolpho Luiz Werneck Botelho, os fatores externos e internos conduzem a uma leitura de que o preço da arroba deve se estabilizar bem acima dos patamares observados no primeiro semestre de 2019. Porém, não tão altos quanto a casa dos R$ 230, que atingiu no fim do ano passado. Apesar da curva acentuada nos preços, Botelho aponta que não houve ganho real ao produtor, mas recomposição do valor do produto.
“Voltar aos preços do começo do ano passado, sem chance. Provavelmente, teremos a arroba rondando a casa dos R$ 200. Mas só teremos uma ideia mais clara do comportamento do mercado após o Carnaval, quando o consumo aumenta”, avalia. “O aumento ocorrido a partir do segundo semestre do ano passado foi recuperação de preços, que estavam defasados havia quatro ou cinco anos”, destaca.
Além de acompanhar o mercado interno, Botelho aponta que o pecuarista brasileiro deve continuar de olho no desenrolar de acontecimentos externos. Um dos focos é a China, que, assim como outros países do Oeste asiático, enfrenta uma crise de peste suína que dizimou a maior parte do rebanho, e que passa por um surto de coronavírus, que pode impactar a capacidade produtiva do país. Outro ponto de interesse é a Austrália, um dos grandes players internacionais na bovinocultura. Acometido por incêndios, o país da Oceania teve seu potencial produtivo reduzido.
“Tudo isso vai impactar no preço da arroba. Por causa dessas crises, a China deve ter um crescimento menor, o que faz a gente pensar que o consumo também vai crescer um ritmo menor. Mas, ao mesmo tempo, esses problemas sanitários provocam o aumento da demanda. Então, a China é uma incógnita. A gente tem que acompanhar”, diz o presidente da CT de Bovinocultura de Corte da FAEP.
Apesar disso, Botelho lembra que o pecuarista de corte do Paraná está menos suscetível às oscilações do preço da arroba. Isso porque, em essência, o Estado produz uma carne bovina de altíssima qualidade, mais voltada ao consumo interno e aos mercados internacionais mais sofisticados – que primam por cortes mais nobres.
“O preço da arroba é um balizador, mas nós [produtores do Paraná] estamos menos suscetíveis em relação a produtores de outros Estados, que produzem uma carne ‘normal’”, observa.
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