O trabalho conjunto do poder público e da iniciativa privada, nas últimas décadas, colocou o Paraná na vanguarda da sanidade animal. Em 2021, o Estado conquistou o reconhecimento como área livre de febre aftosa sem vacinação, pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Desde então, uma série de medidas vem sendo tomadas para manter o Paraná no alto patamar sanitário, o que contribui para investimentos milionários em laboratórios de produção de vacinas e insumos para diagnósticos de doenças em animais.
Um dos investimentos mais recentes nessa área envolve a construção de uma indústria veterinária da empresa Biogénesis Bagó, com investimento de mais de R$ 100 milhões que vai gerar 300 empregos diretos e indiretos. A planta inaugurada em julho deste ano, em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), é especializada no desenvolvimento e produção de soluções para sanidade, principalmente no segmento de animais de companhia e de produção. Quando estiver operando com capacidade máxima, a indústria vai produzir mais de 10 milhões de doses de vacinas por ano, a maior capacidade instalada da América Latina.
“O fato de uma indústria com esse nível de importância escolher o Paraná para se instalar é um reconhecimento pelo trabalho sanitário realizado nas últimas décadas. É mais uma prova de que o Estado atingiu um patamar de referência para a sanidade a nível de Brasil e mundo”, aponta Ágide Eduardo Meneguette, presidente interino do Sistema FAEP.
Segundo o gerente da Biogénesis Bagó no Brasil e América Latina, Marcelo Alejandro Bulman, a escolha do município na RMC para sediar a fábrica ocorreu pelo fato de o Paraná ser um ponto estratégico. “Nossos caminhões vindos da Argentina passam em frente à nova planta no caminho a São Paulo. Também trazemos algumas coisas via aérea e temos o aeroporto Afonso Pena, que trabalha com cargas. E se for o caso, eventualmente, para os navios temos o Porto de Paranaguá”, detalha Bulman.
A planta no Paraná conta com duas frentes de ação. A primeira está ligada à produção de vacinas com vírus vivos, enquanto a segunda envolve pesquisa e desenvolvimento, com o objetivo de chegar a novos produtos e bases tecnológicas. “Temos dois centros de pesquisa. Na Argentina, uma equipe trabalha com pesquisa e desenvolvimento de fármacos [não vacinas] e outra com produtos biológicos [vacinas]. No Brasil, nosso intuito é trabalhar no desenvolvimento de vacinas”, completa Fabricio Bortolanza, gerente de relações governamentais da Biogénesis Bagó.
Reforço nacional
O governo federal, por meio do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), busca o reconhecimento internacional de todo o Brasil como área livre de febre aftosa sem vacinação. Quando tiver essa chancela, uma das preocupações é manter um estoque de antígeno com capacidade de produzir vacina, além de um estoque de vacinas já produzidas, para o caso de emergências. Para isso, uma parceria entre a Biogénesis e o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) permitiria viabilizar esse banco no Paraná.
“Essa é uma discussão que o Tecpar está fazendo com o governo federal, em parceria com a empresa Biogénesis Bagó, que faz parte de um acordo de transferência de tecnologia”, explica Iram de Rezende, diretor-industrial da saúde do Tecpar.
Até o momento, a entidade paranaense e o laboratório multinacional já se apresentaram ao governo brasileiro como possível laboratório detentor de um banco de vacinas preventivo. “Tivemos uma reunião técnica, uma visita a um banco de vacinas na Argentina e isso está evoluindo. Como temos tecnologia da vacina, a proposta é dispor de banco à disposição do governo brasileiro”, aponta Rezende.
Tecpar constrói novo laboratório
Outro investimento importante para o fortalecimento da sanidade paranaense envolve o Tecpar, que está construindo seu novo Laboratório de Pesquisa e Produção de Insumos para Diagnósticos Veterinários. Quando estiver em operação, sete insumos veterinários serão produzidos: tuberculina PPD bovina, tuberculina PPD aviária, antígeno acidificado tamponado (AAT), prova lenta (PL) em tubos, anel do leite Ring Test (RT), kit para diagnóstico da brucelose ovina e kit para diagnóstico da leucose bovina. O investimento realizado pelo governo estadual é de R$ 41,5 milhões.
“O Tecpar já atuou no mercado atendendo a demanda por esses insumos veterinários no passado e precisou interromper a produção em função da necessidade de adequações. Com esse investimento do governo estadual, estamos em fase de construção de um laboratório novo para retomar a produção e não deixar o país descoberto desses produtos que o Tecpar tem capacidade e qualidade para atender tão bem”, explica o diretor-industrial da saúde do instituto, Iram de Rezende.
A nova unidade está sendo construída no câmpus CIC do Tecpar, em Curitiba, com previsão de conclusão no início de 2025. Quando pronta, a unidade vai ter capacidade produtiva de 40 milhões de doses desses insumos por ano.
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