A erosão é um problema que assola o ambiente e o bolso do produtor. O revolvimento expõe a camada menos fértil, o que deixa o solo mais dependente da adubação. O Plantio Direto (PD) preserva o solo da erosão e gera economia de adubo, além de proporcionar menor custo de produção em função da economia com operações agrícolas, pela melhor fertilidade do solo e maior produtividade. A conservação do solo deve ser pensada como gestão, para mitigar impactos ambientais.
O PD veio como “salvador da pátria” para o controle da erosão, devido ao não revolvimento do solo e a presença de palhada no mesmo. Porém, nos últimos tempos, o PD vem sendo adotado de forma isolada pelos produtores, deixando de causar os efeitos esperados. Vale lembrar que a conservação do solo demanda um conjunto de práticas, como os terraços e sistema de rotação de culturas, que devem ser corriqueiras para o agricultor. Afinal, a principal consequência do mau manejo do solo é a perda por erosão!
Atualmente, a erosão do solo é problema na agricultura paranaense. Segundo estimativas da Embrapa, em 2018, o Paraná registrou 10 toneladas de solo/ hectare/ano erodidas. Ainda, há regiões em que as perdas ultrapassam 20 toneladas de solo/hectare/ano, como no Arenito Caiuá.
O Preparo Convencional (PC) favorece a erosão. Afinal, revolver o solo com arado e grades potencializa e acelera o processo, além de encarecer a produção agrícola e não proporcionar aumento significativo de produtividade. O que precisa ficar claro para o produtor é o quanto em adubo esta perda de solo por erosão representa no bolso.
Pesquisas atestam menor produtividade em solo revolvido. Em trabalho divulgado na Revista Brasileira de Ciência do Solo em 2011, a produtividade da soja sob PC foi de 58 sacas/hectare em solo de Cerrado, enquanto, nas mesmas condições sob PD, atingiu 68 sacas/ hectare. Em estudo conduzido no Paraná e publicado na revista internacional Soil and Tillage Research em 2021, a produtividade da soja no PC foi de 63 sacas/ hectare, sendo que o PD registrou 72 sacas/hectare. Nas mesmas condições de solo, clima e semente, a produção menor no PC está relacionada ao revolvimento do solo.
Por que isso ocorre?
O revolvimento torna o solo mais suscetível à erosão. Junto com o solo erodido também é perdido todo fertilizante aplicado. Ou seja, é natural que em sistemas mais erodidos, o solo seja menos fértil, demandando por mais fertilizante.
A erosão é um grave problema ambiental, agrícola e econômico, este último é pouco quantificado.
Os nutrientes mais impactados pela erosão são potássio, fósforo, cálcio e magnésio. A cada 0,1 cmolc/ dm³ de potássio no solo corresponde a 177,4 quilos de cloreto de potássio (KCl)/hectare; cada 0,1 cmolc/dm³ de cálcio e 0,1 cmolc/dm³ de magnésio corresponde a 153 quilos de calcário/ hectare; já o fósforo (um elemento cada vez mais raro e caro), cada 0,1 mg/dm³ equivale a 25,4 quilos de superfosfato simples/hectare.
Na prática
Foram comparados três solos em situações distintas no Brasil, sob PC e PD: Argissolo no Cerrado; Latossolo no Rio Grande do Sul e Cambissolo no Paraná. Todos têm natureza distinta e representam pelos menos 65% do território nacional. Nas três condições, independentemente da região, o PD apresenta maiores teores de nutrientes quando comparado ao PC (confira tabela). Mas quanto esse “a mais” do PD pode favorecer o produtor? No Argissolo, a diferença é de 0,32 cmolc de potássio/dm³ a mais no PD em relação ao PC. Traduzindo, o produtor deverá aplicar pelo menos mais 568 quilos de KCl/hectare para igualar a área de PC ao PD no Argissolo, encarecendo a produção em R$ 1.993/hectare, considerando o preço do KCl R$ 3.512,86/ tonelada, segundo a Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab). No Latossolo, o custo a mais ao produtor seria R$ 1.121,47 e no Cambissolo R$ 3.365,42.
Diferença entre os solos
A explicação está na formação destes solos. A Argissolo e Cambissolo têm a camada superficial mais arenosa, o que os tornam mais suscetível à erosão. Isso porque, ao serem revolvidos, perdem mais solo e consequentemente nutrientes. Assim, nestes solos o PD é mais benéfico ainda quando comparado a um solo mais argiloso como o Latossolo, em que a perda de solo e de dinheiro é menor nas situações mostradas. O potássio é um nutriente-chave na produção principalmente de soja. A perda deste elemento pode comprometer a produtividade da cultura em até 40%.
O calcário é um insumo essencial para a agricultura. Composto de cálcio e magnésio, e originado da rocha calcária que é barata e de fácil obtenção, porém a aplicação em grande quantidade pode ser um indicativo de empobrecimento da fertilidade do solo. De acordo com a Seab, uma tonelada de calcário calcítico custa R$ 234. Assim, no Argissolo e no Cambissolo sob PC, a dose de calcário a ser aplicada é maior do que no mesmo solo sob PD, sendo o maior impacto no Argissolo, mais fácil de sofrer erosão, com um custo de calcário de R$ 748 a mais no PC em relação ao PD.
A erosão é a principal forma de perda de fósforo nos solos, em manejos que favoreçam a erosão, e que mais impacta o bolso do produtor rural. Os adubos fosfatados, como superfosfato simples, são cotados a R$ 2.299,11/tonelada, mais baratos que o KCl. Mas a quantidade aplicada é muito alta devido a imobilização do fósforo pelas argilas dos solos. De acordo com o artigo da Revista Brasileira de Ciência do Solo, em solos sob PC, o conteúdo de fósforo é 66% menor em relação ao mesmo solo em PD. Nos exemplos apresentados, o Cambissolo sob PC tem aproximadamente R$ 44.500 a menos de fósforo em relação ao PD. Os adubos fosfatados são aplicados sempre em proporções estratosféricas nos solos devido ao elemento ser imobilizado pela argila. Outra questão, é que as fontes deste elemento estão se esgotando, consequentemente o adubo será mais caro e poderá limitar a produção agrícola.
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