O pequeno produtor rural Fábio Junior Vieira Calegari procurava, em 2018, uma segunda atividade para desenvolver na propriedade de seis hectares, em Verê, no Sudoeste do Paraná, que administra em parceria com o sogro. Em um fim de semana, durante a visita do então secretário de Agricultura do município, Rodrigo Garbossa Primo, três caixas de abelhas jataí que Calegari mantinha como hobby chamaram a atenção do visitante. Primo, então, fez um convite ao produtor: “Vai ter um curso de meliponicultura do Sistema FAEP. Você gosta desses bichinhos. Por que você não faz [a capacitação]?”.
Como a propriedade fica a 10 quilômetros da cidade e ele tinha uma filha bebê, ponderou que seria difícil se ausentar de casa e do trabalho ao longo de quatro dias seguidos – período de duração da formação. Na semana do curso, o secretário municipal reforçou o convite. Ante a insistência, o produtor acabou se inscrevendo. Ainda bem, porque a capacitação abriu seus horizontes para um modelo que transformaria os negócios da família.
O instrutor do Sistema FAEP apresentou o mundo da meliponicultura, trouxe a parte técnica e detalhou a parte prática, de forma didática. Quando ele apresentou outras espécies que eu nem conhecia, vi que a coisa era grande. Aí, eu me apaixonei e vi que poderia ser uma fonte de renda.
Fábio Junior Vieira Calegari, produtor rural em Verê
Até então, a propriedade era destinada à pecuária leiteira – o Sudoeste é um importante polo produtor de leite do Paraná. Mas Calegari enfrentava dificuldades, assim como outros pecuaristas da região. Com as coisas difíceis na sala de ordenha, o produtor vislumbrou que as abelhas sem ferrão poderiam ser uma oportunidade. Conversou com a esposa, Tatiane Jussara Minotto, e o sogro, Tarcísio Minotto, que toparam o desafio de, aos poucos, migrar a propriedade para a meliponicultura. Porém, do lado de fora da porteira, Calegari enfrentou o desestímulo de amigos e chegou a ser motivo de piada.
“Quando eu falava que ia mexer com abelhas, me chamavam de burro. Falavam que era coisa de piá barrigudo. Me chamavam de ‘bobo dos alemãozinho’”, contou Calegari, se referindo a um dos nomes populares pelos quais as abelhas jataí são conhecidas na região. “Mas minha mulher e meu sogro compraram a ideia e eu comecei a estudar sobre meliponicultura”, conta Calegari.
Do início ao crescimento
O produtor queria estruturar a produção a partir da espécie mandaçaia, mas não tinha dinheiro para comprar as primeiras colmeias. Para levantar capital, Calegari vendeu um cão da raça Border Collie, filhote de seu outro cachorro. “Foi difícil, porque eu sempre tive um sonho de ter um Border Collie preto e branco e aquele filhote era do jeito que eu sempre quis. Mas tive que abrir mão. Com o dinheiro, comprei duas caixas de mandaçaia”, recorda o meliponicultor.
Ao longo de 2019, Calegari fez outro curso do Sistema FAEP, ampliando seu conhecimento e sua rede de contatos. Na ocasião, ele já fazia iscas para capturar abelhas na mata e tinha aprendido a dividir colmeias, o que permitia realizar negociações de compra e venda – os chamados “briques” – com meliponicultores da região. Mas o grande salto veio em 2020, quando Calegari pegou um empréstimo e investiu na aquisição de novas colmeias.
“Eu reuni outros produtores da região e compramos as caixas de abelha em Aurora, em Santa Catarina. Investi R$ 7,5 mil em 20 caixas. Fiquei com 30 colmeias e dei uma alavancada na produção”, relembra.
Consolidação
Até então, quando precisava dividir as colmeias, Calegari fazia os caixotes de forma improvisada ou os comprava prontos. Isso representava um custo extra ao negócio. Então, ele percebeu que poderia pôr a mão na massa. O produtor fez um curso de marcenaria e, em outro passo ousado, financiou a compra das ferramentas para construir uma oficina na propriedade. Além de fabricar as caixas para si, Calegari passou a vendê-las para outros meliponicultores, se tornando uma referência na região, a ponto de ministrar cursos e tirar dúvidas de produtores que estão começando na atividade.
“Aí, foi um estouro! Eu comecei a ficar conhecido e as portas se abriram. O pessoal começou a vir atrás, tanto para comprar abelhas, quanto para comprar as caixas”, diz. “Eu trabalhei de sábado a sábado para pagar o financiamento. Mas valeu a pena”, acrescentou.
Com o sucesso na meliponicultura, a família de Calegari vendeu o rebanho de 18 vacas em lactação e 14 novilhas ainda em 2021. A propriedade mudou de nome: se tornou o Meliponário Minotto & Calegari. O negócio mantém mais de 300 colmeias, de 11 espécies, como mandaçaia, manduri, jataí, canudo e mirim-preguiça, entre outras. “Eu virei uma referência, mesmo”, assume Calegari.
Novos passos
Com o meliponário consolidado, a família se prepara para avançar mais, apostando no turismo rural. A propriedade tem localização privilegiada – fica a 400 metros da BR-483 – e conta com atrativos naturais, como o fato de estar às margens de um rio e com área preservada de Mata Atlântica.
Calegari investiu R$ 150 mil para melhorar a infraestrutura e criar um espaço para a comercialização de meliprodutos. O local recebe grupos de turistas e alunos de escolas do município.
O meliponicultor planeja, ainda, oferecer cursos e oficinas, voltados ao universo das abelhas sem ferrão. “Foi uma mudança acertada. E tudo isso eu devo ao SENAR-PR”, apontou o produtor. “O ‘bobo dos alemãozinho’ agora anda de caminhonete com ar condicionado. Eu vou mandar imprimir essa frase e vou colar na máquina”, disse Calegari, aos risos, referindo-se à Montana zero quilômetro, que comprou com a prosperidade do negócio.
Comentar