Com demanda aquecida pela China, que enfrenta um surto de Peste Suína Africana (PSA), a pecuária paranaense teve um 2019 excelente. Além de ter obtido recordes no faturamento de frango e suínos, os pecuaristas paranaenses viram o preço da arroba do boi gordo bater na casa dos R$ 230 (em dezembro do ano passado). Toda essa efervescência no complexo de carnes puxou a demanda por outra fonte de proteína animal: o ovo. Com aumento contínuo no consumo e preços em alta, as perspectivas do setor continuam positivas para 2020, com projeção de aumento de produção.
O bom cenário se configurou em várias frentes. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o consumo per capita saltou de 212 ovos por ano, em 2018, para 230 ovos, em 2019: avanço superior a 35%. Impulsionado pela procura e pelo aumento da produção, o faturamento também decolou: o Valor Bruto de Produção (VBP) do setor ultrapassou a marca de R$ 1,1 bilhão, alta de 37,7% e recorde histórico para o produto.
“O bom momento do setor de ovos vem na esteira das outras proteínas. Tivemos um grande aumento no consumo e na exportação de bovinos, suínos e aves, o que fez com que o preço no mercado interno também subisse. Como o consumidor brasileiro é sensível ao preço, houve uma transmissão de hábitos de consumo. Se o preço de bovinos, suínos e aves está alto, o consumidor migra para os ovos”, aponta Luiz Eliezer Ferreira, técnico do Departamento Técnico Econômico do Sistema FAEP/SENAR-PR.
Eficiência paranaense
E a onda positiva não se restringiu ao ano passado, de modo que o produto já entrou em 2020 com valorização bastante expressiva. Em janeiro deste ano, o preço do ovo médio (30 dúzias) estava em R$ 75, alta de 35% em relação ao mesmo mês de 2019. Técnica do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR, Mariana Assolari destaca outro ponto que chama a atenção: a eficiência. O Paraná está produzindo 12% a mais em relação a 2016, com o mesmo número de matrizes alojadas.
“A perspectiva é de que o consumo interno continue aquecido, com cotações favoráveis e crescimento da produção. Outro fato notável para esse segmento é que a produção de ovos por matriz alojada aumentou, evidenciando a evolução do segmento e maior eficiência”, acrescenta Mariana.
A visão dos especialistas é corroborada pelo otimismo no campo. Animado pelo aquecimento do mercado, o produtor rural e presidente da Associação Paranaense de Avicultura (Apavi), Arnaldo Cortez, estima que a produção de ovos no Estado aumente pelo menos 5% neste ano. Médio produtor, ele mantém granjas com 48 mil aves alojadas, com produção diária de 47 mil ovos, e se prepara para expandir a capacidade.
“O aumento da produção é mais lento, porque leva quatro meses para que a pintainha se desenvolva e possa botar o primeiro ovo. Mas temos granjas no Estado que desde meados do ano passado já estavam aumentando as instalações para ampliar o negócio”, diz Cortez. “No meu caso, estamos projetando um aumento da produção de, no mínimo, 10%, para aproveitar esse bom momento”, completou.
Paraná produz 5 bilhões de ovos por ano
Esses bons ventos não sopram apenas por uma questão de conjuntura favorável. Ao longo dos últimos oito anos, a produção paranaense de ovos aumentou 25%. Nos últimos quatro anos, o volume produzido vem aumentando ano a ano, até chegar ao recorde atual, de 420 milhões de dúzias. No mesmo período, o faturamento cresceu 57%: mais que o dobro da evolução da produção. A técnica do Detec do Sistema FAEP/SENAR-PR Mariana Assolari aponta, também, que o grande aumento de alojamento de matrizes ocorreu de 2008 a 2018, quando o plantel paranaense aumentou 42%.
Para além dos números, está o investimento em qualidade por parte dos avicultores. Segundo a Apavi, as granjas do Paraná têm feito um esforço contínuo ao longo dos últimos anos para se adequar aos padrões preconizados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF). Tudo isso, ajudou a catapultar a confiabilidade do produto paranaense e, por conseguinte, a produção no Estado.
“A gente vem investindo, vem melhorando a estrutura de nossas granjas. Cerca de 90% das granjas do Estado já estão enquadradas neste padrão SIF. Isso quer dizer que temos um produto de qualidade. Estamos prontos para fazer o mesmo caminho do frango e buscar o mercado internacional”, diz Arnaldo Cortez, presidente da Apavi.
E o investimento se faz necessário, se considerarmos que as perspectivas para 2020 são positivas. No mercado internacional, a China ainda deve demorar a conseguir recompor seu rebanho, dizimado pelo surto de PSA. Além disso, o país asiático enfrenta uma crise causada pelo coronavírus, cujo impacto na economia ainda é difícil de dimensionar.
No mercado interno, as projeções indicam que a cotação da arroba do boi gordo não deve se sustentar nos picos de R$ 230 observados no fim do ano passado, mas devem ficar bem acima dos patamares que vinham sendo registrados em meados de 2019. “De um lado, temos a China, que deve continuar comprando proteína do Brasil, o que traz impactos à oferta interna. Isso provoca o aumento de preços de todas as proteínas, inclusive dos ovos. Além disso, com a aprovação de reformas, no campo político, devemos ter uma melhora no ambiente de negócios”, analisa Luiz Eliezer Ferreira.
Brasil ainda exporta menos de 1% da produção
Uma possível oportunidade para os produtores de ovos está no mercado internacional. Hoje, o volume exportado pelos Brasil é muito pequeno – corresponde a menos de 1% da produção. Ainda assim, neste cenário, o Paraná figura como o segundo maior Estado que embarca ovos para o mercado internacional. No ano passado, por exemplo, os produtores exportaram 5,7 toneladas do produto, movimentando US$ 19,6 milhões. Outro ponto que chama a atenção é que, enquanto as exportações nacionais do setor recuaram quase 20% em volume, as vendas externas de ovo do Paraná aumentaram sensivelmente.
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