Não é de hoje que o agropecuarista Anselmo Coutinho Machado vive da terra. Nascido e criado no campo, há três décadas ele e sua família se fixaram em Pitanga, na região Centro-Sul do Paraná, onde mantêm uma propriedade de 270 hectares. Ali, se dedicam à pecuária integrada à agricultura – criam bovinos e produzem soja. O trabalho familiar também gera emprego: são dois funcionários fixos. Produtores rurais como Machado se contam às dezenas no município. Não é para menos. A agropecuária é a atividade econômica mais importante da microrregião, respondendo por 58,3% do que Pitanga produz.
“[A agropecuária] é o motor da nossa economia e a nossa vocação. As indústrias estão na periferia das grandes cidades. Então, aqui na região central, o campo tem um significado muito importante. Se não é a agropecuária em si, são as cooperativas e as agroindústrias que puxam a economia”, observa Machado.
A percepção do produtor rural vai ao encontro de um estudo recém-elaborado pelo Departamento Técnico Econômico (DTE) da FAEP, que dimensiona o real peso que o campo tem para cada um dos 399 municípios do Paraná. E o resultado é bastante expressivo: o setor primário (produção agropecuária) representa mais da metade das riquezas geradas em 234 municípios. Em 125 deles, a importância é ainda mais significativa: mais de 70% do que produzem provêm do meio rural.
O levantamento partiu do Valor Adicionado Fiscal (VAF), um índice apurado pela Secretaria da Fazenda do Estado do Paraná que mede os recursos gerados por cada um dos setores da economia – agropecuária, indústria e comércio – em cada cidade. O indicador é usado pelo governo estadual para definir a cota que o município vai receber como repasse do ICMS arrecadado. “Esse Valor Adicionado Fiscal é calculado com objetivo de verificar a geração de riqueza em cada município, nos três setores da economia. O índice mostra que, para a maior parte dos municípios do Paraná, a agropecuária é o setor que tem mais peso”, ressalta Luiz Eliezer Ferreira, economista da FAEP.
Ponto de partida
O trabalho realizado pela FAEP teve como ponto de partida um pedido do Sindicato Rural de Ivaiporã, que solicitou um diagnóstico do impacto econômico que a agropecuária exerce na cidade. Na ocasião, em conjunto com outras entidades rurais, o Sindicato participava das discussões do plano diretor do município, mas percebeu que o setor estava sendo deixado de lado na elaboração de políticas públicas, sob o argumento de que o campo talvez não fosse tão importante para a comunidade local. Os dados, no entanto, apontaram que o setor primário é responsável por mais de 42% das riquezas geradas em Ivaiporã, o que corresponde a R$ 165,6 milhões. “A partir desses números, a gente pretende cobrar o prefeito, no sentido de que olhe mais para o campo, que dê condições para que o homem do campo consiga formar suas agroindústrias e que tenha mais infraestrutura”, diz o presidente do Sindicato Rural, Lourival de Góes.
Do grande ao pequeno
A importância fica ainda mais evidente em pequenos municípios, que dependem quase que exclusivamente do agronegócio. Ariranha do Ivaí, cidade de 2,5 mil habitantes, localizada no Norte-
-Central do Paraná, proporcionalmente é o nono município em que o campo tem mais peso. A produção rural representa 88,6% das riquezas geradas por ali. Em torno da agropecuária, gravitam a indústria e o comércio locais, com participações bem menores – respectivamente, de 6% e 5,4%.
Os números revelam o que os produtores rurais do município já sabiam na prática. O agricultor Renan Petrasse mora com a mulher e com os pais em uma propriedade de pouco mais de 200 hectares, da qual retiram o sustento. A família já chegou a se dedicar à pecuária leiteira, mas, após a análise do desempenho do negócio, decidiu se focar exclusivamente à lavoura. Hoje, plantam principalmente soja, milho e trigo.
“O que gira em Ariranha [do Ivaí] é a agricultura e a pecuária. Se não fosse o campo, a cidade estava morta. E não é só aqui. Nos municípios em volta também. Ivaiporã, Manoel Ribas… é tudo assim”, aponta Petrasse.
Os pais de Renan, José Carlos e Rita de Cássia Petrasse, reconhecem há décadas a dependência que a cidade tem da produção agropecuária, em uma dinâmica que eles sabem decor: quando o campo vai bem, a cidade vai ainda melhor. “Se agricultura e a pecuária vão mal, os outros setores padecem. Se gear, acaba com o trigo e não tem dinheiro girando. O comércio pode até ter roupa de frio para vender, mas não tem quem compre. Todo mundo sofre, porque todo mundo depende da gente”, exemplifica Rita de Cássia.
Engana-se quem pensa que a força se concentra nas mãos apenas de grandes produtores, cooperativas e/ou agroindústrias. Como se vê, os pequenos e médios agricultores e/ou pecuaristas, perfil da maioria do setor no Paraná, também têm uma participação significativa na movimentação da economia e na geração de riquezas e de renda. Isso faz com que mais famílias tenham seu ganha-pão no campo, com culturas das mais diversificadas.
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