Sistema FAEP

A partir de 2020, Agrinho terá novo material didático

Temas de interesse para professores e alunos do Paraná foram desenvolvidos por especialistas de outros Estados, além da Inglaterra e Portugal

Ao longo dos seus 24 anos de existência, o Programa Agrinho contabilizou números que comprovam a capilaridade da principal iniciativa de responsabilidade social do Sistema FAEP/SENAR-PR. São mais de 1 milhão de alunos e cerca de 80 mil professores, das redes pública e privada, de praticamente todos os municípios do Paraná, envolvidos anualmente no programa. Neste período, mais de 24 milhões de materiais didáticos já foram distribuídos.

Muito do sucesso do programa está na qualidade do material utilizado, que passa por atualizações periódicas para garantir que o conteúdo trabalhado esteja de acordo com a realidade das crianças e professores. Ao longo deste ano, o material didático recebeu sua nona atualização, com o objetivo de contemplar as inovações apresentadas na área da educação e trazer novos temas. A atualização está sendo desenvolvida por um grupo de pesquisadores e especialistas de diversos Estados e também do exterior.

“O Agrinho e os seus materiais didáticos precisam acompanhar a evolução do campo e, principalmente, da educação. Por isso que, periodicamente, realizamos essa atualização, que permite ao programa sempre estar de interesse dos alunos e professores”, destaca Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR. O material didático do Agrinho compreende dois livros destinados aos docentes, um técnico e outro metodológico. Já os alunos recebem uma coleção de livros, um para cada ano letivo, do primeiro ao nono ano do ensino fundamental.

Com a atualização, para o primeiro e segundo anos, serão distribuídas fichas com encartes nos campos de alfabetização e psicomotricidade. Os alunos do terceiro ao quinto anos receberão materiais no formato revista com composição de mini-artigos, abrangendo os temas transversais. Já as turmas do sexto ao nono anos serão contempladas com materiais no formato revista em quadrinhos.

O material também estará disponível no site do Agrinho (www.agrinho. com.br). Na versão online, os livros destinados aos docentes são em formato multimídia, ou seja, contêm links que direcionam para outros conteúdos, animações e videoaulas dos professores envolvidos na redação do material.

Além disso, outros aspectos do Agrinho também passam por reformulações, como o regulamento e a formação de professores, tanto presencial como à distância.

Novas tecnologias

A pesquisadora Edméa Santos, especialista em cibercultura e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), participa da elaboração do material do Agrinho há mais de 10 anos. “O desenvolvimento do material didático é um processo muito interessante porque envolve o que chamamos de tripé da universidade, com ensino, pesquisa e extensão”, afirma.

Segundo Edméa, para os professores da universidade, o Agrinho é um projeto de extensão em que diversos grupos de pesquisa contribuem na produção dos livros e fundamentam teoricamente a formação de professores do programa. “É a universidade em comunicação com a comunidade, interagindo e dialogando com seu entorno”, aponta. A pesquisa acadêmica, além de culminar na produção de novos materiais para o programa, retorna para o ensino na própria universidade, visto que os professores envolvidos utilizam estes conteúdos em sala de aula.

Nas atualizações do material, além da introdução de novos conteúdos, são abordadas as próprias metodologias de ensino, como a inovação pedagógica. Um dos pontos considerados importantes é a abordagem das tecnologias digitais na educação no contexto da cibercultura. “Pela minha experiência, a atualização do conteúdo é sempre em relação à cultura contemporânea. A gente vive no momento da cibercultura, que é a cultura contemporânea mediada pelo digital em rede, e esse digital muda o tempo todo. Agora, por exemplo, temos as questões do Big Data, dos algoritmos, das fakenews, problemas que há dois anos não existiam”, explica.

Na inovação pedagógica, a pesquisadora argumenta que, atualmente, o foco está no ensino híbrido, que mescla o aprendizado online e offline, e nas metodologias ativas, em que o aluno é personagem principal neste processo. “Essa própria educação online já se transforma com o uso dos celulares. Por exemplo, no último material, eu não falava de uso de celulares e do app learning, que é o aprendizado por aplicativos”, aponta.

Ainda, Edméa destaca o uso do lúdico no material destinado aos alunos, considerado fundamental no processo de aprendizagem no ensino infantil. “É um material construtivista que permite que o professor crie sua aula. A gente não quer ensinar para quem já sabe, a gente quer dar um material que permita a melhora de quem já sabe”, conclui.

Novos modelos de ensino

Diante de um mundo cada vez mais conectado, o papel do professor em sala de aula também passou por uma transformação, de acordo com a pesquisadora Lúcia Amante, da Universidade Aberta, em Lisboa, Portugal. O docente deixou de ser a única fonte de conhecimento, mas segue com função de orientar o aluno na busca e processamento das informações.

“É preciso orientar o aluno nessa pesquisa, na construção do conhecimento. Neste mundo digital em que há uma sobrecarga de informações, o professor tem que estar lá para guiar o aluno, ajudá-lo na direção correta para construir essa aprendizagem e transformar informação em conhecimento”, explica Lúcia, que participa do desenvolvimento do material didático do Agrinho desde 2012 e utiliza os mesmos materiais em aulas em Portugal.

Nesse sentido, a pesquisadora também aponta as mudanças em relação ao uso das tecnologias na educação do receptor. Ou seja, o aluno passou por um processo de transição e, atualmente, ocupa um papel mais ativo no seu processo de aprendizagem, como mostra a metodologia da sala de aula invertida.

“Há 10 anos, pensávamos sobre a utilização da tecnologia enquadrada naquilo que já fazíamos. A grande mudança passa por uma utilização da tecnologia que transforma a atuação pedagógica e transforma aquilo que se faz a partir da própria tecnologia. Passa a haver uma utilização da tecnologia em que ela, por si, cria novas formas de atuação pedagógica”, salienta.

Neste contexto, professores e alunos também passam a ocupar o mesmo papel em relação à produção de conteúdo, de modo que, nesta nova rede de disseminação de informações, o uso da tecnologia permite ir além do simples consumo. “A utilização da tecnologia deixa de ser exclusiva de aprendizado no contexto da sala de aula para ter um sentido mais amplo”, ratifica Lúcia.

Para a professora, ao trazer essa discussão para centenas de escolas paranaenses, o Programa Agrinho ocupa a função de catalisador da mudança das práticas pedagógicas, oferecendo suporte aos professores e fomentando a inovação. “É um programa extremamente motivador que envolve professores e alunos tão fortemente na aprendizagem e na vivência do dia a dia da escola”, ressalta.

Tecnologias móveis entram na atualização pedagógica

O uso de tecnologias móveis na educação é um dos temas de destaque no novo material didático do Programa Agrinho. Especialista no tema, a professora Sara Trindade, da Universidade de Coimbra, em Portugal, foi a responsável pelo desenvolvimento de estratégias em relação a essas tecnologias.

“As tecnologias digitais evoluíram, as plataformas, as ferramentas e os equipamentos mudaram. Por isso, a atualização periódica é excelente e fundamental quando falamos destas áreas de trabalho. As tecnologias móveis que, talvez, não tivessem grande destaque nas edições anteriores do material, hoje são praticamente incontornáveis”, esclarece a pesquisadora, que contribui pela primeira vez com o Agrinho.

Apesar da crescente presença de dispositivos móveis no dia a dia dos brasileiros, a realidade das escolas nem sempre é a mesma. Por isso, é importante identificar as diferenças e elaborar um material que possa ser adaptado, visto que o Agrinho está presente em praticamente todos os municípios do Paraná.

“O professor precisa saber contornar essa situação de falta de acessibilidade digital, como pode fazer o uso offline desses equipamentos. É um conjunto de questões que temos que pensar sempre adiante”, observa Sara. “Dentro da mesma escola podem haver condições diferentes dentro das turmas. Então, o que procuramos fazer na preparação desses materiais é criar algo que aborde determinados temas da forma mais abrangente possível. A metodologia precisa servir a alguém que tem tudo ou quase tudo”, complementa Sara.

Para a pesquisadora, o Agrinho vem cumprindo essa proposta ao longo dos anos, dada a quantidade de alunos e professores envolvidos no programa. “Uma das coisas mais relevantes é o fato de, em uma área tão grande como o Paraná, o Agrinho consegue pensar em uma lógica de ser adaptável às crianças e aos professores, com uma base comum, criando mecanismos e estratégias que podem ser usados por todos e beneficiar a todos. É tudo muito completo e, portanto, excelente”, finaliza.

Pesquisa e inovação com responsabilidade

A atualização do material didático do Programa Agrinho também traz conceitos inéditos a serem trabalhados no âmbito da educação. Responsible Research & Innovation (RRI) é uma abordagem criada pela União Europeia sobre processos de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico que envolvem os potenciais impactos no meio ambiente e na sociedade. A professora e pesquisadora Alexandra Okada, da Open University, no Reino Unido, trouxe esse debate para o contexto do programa.

Segundo Alexandra, o RRI visa assegurar que avanços científicos de todas as áreas do conhecimento sejam direcionados e alinhados com os valores, necessidades e expectativas da sociedade, a partir de um trabalho em conjunto entre os atores sociais. “O RRI envolve a pesquisa dentro da ética, desenvolvendo ciência com e para a sociedade, de modo a criar condições para promover um futuro sustentável”, destaca.

A pesquisadora auxiliou na criação de um modelo de habilidades necessárias para o RRI e expõe formas de trabalhar com essa abordagem na educação. “É um modelo para os estudantes entenderem como a ciência é construída, por meio da elaboração de perguntas, busca de dados e fontes, análise de dados, resultados de pesquisas, desenvolvimento de soluções e respostas para as questões com base em evidências. Todas essas habilidades precisam ser trabalhadas em parceria”, explica.

A abordagem RRI abrange seis dimensões: governança, acesso aberto, gênero, ética, engajamento público e aprendizagem científica. De acordo com Alexandra, o Agrinho, em sua maioria, já compreende esses elementos, por isso é importante fazer com que os professores entendam o processo na prática. “Os alunos buscam informações e trazem questionamentos dentro do Agrinho, que resultam em projetos e, consequentemente, há o envolvimento de parceiros e da sociedade. Entender o que é e como você faz o RRI permite explorar muito mais esse trabalho na educação”, complementa.

Antonio Senkovski

Repórter e produtor de conteúdo multimídia. Desde 2016, atua como setorista do setor agropecuário (do Paraná, Brasil e mundial) em veículos de comunicação. Atualmente, faz parte a equipe de Comunicação Social do Sistema FAEP. Entre as principais funções desempenhadas estão a elaboração de reportagens para a revista Boletim Informativo; a apresentação de programas de rádio, podcasts, vídeos e lives; a criação de campanhas institucionais multimídia; e assessoria de imprensa.

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