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Câmbio traz alento para o agronegócio em 2015

Desvalorização do real diante ao dólar garante vendas mais rentáveis aos produtores de soja e milho, além de novos compradores

O ano de 2015 mal começou, mas o agronegócio brasileiro sabe que a temporada será de margens apertadas, principalmente no setor de grãos. A boa safra dos Estados Unidos, a previsão de colheita recorde no Brasil e o aumento dos estoques nacionais e mundiais indicam que as cotações das principais commodities agrícolas – soja e milho – devem seguir em queda ou, no máximo, manter os patamares atuais ao longo do ano, dependendo se haverá problemas climáticos. Segundo projeção da Expedição Safra Gazeta do Povo, o país deve atingir 202 milhões de toneladas de grãos no ciclo 2014/15.

Diante deste cenário pouco animador, os produtores brasileiros comemoram a desvalorização do real diante ao dólar, mesmo que isso dificulte o controle da inflação. A moeda americana na casa dos R$ 2,70 faz com que a cotação da saca de soja seja negociada perto dos R$ 60 em todas as praças agrícolas do país neste início de ano. Ontem, em algumas localidades como Cascavel, Maringá e Londrina, a cotação bateu R$ 62 por saca, enquanto Paranaguá chegou a R$ 65/sc.

“O câmbio será um alento [para o agronegócio]. Sempre que o real se desvaloriza, a remuneração é maior para o produtor. Como a cotação do dólar não sinaliza alteração, a taxa de câmbio irá continuar favorecendo o agronegócio brasileiro”, destaca Lucilio Alves, professor e pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP.

No Brasil, a projeção apresentada pelo Banco Central no Boletim Focus aponta para uma cotação média de R$ 2,71 em 2015. A previsão para o câmbio no fim deste ano é de R$ 2,80.

De acordo com a consultoria FCStone, os preços não devem retornar aos níveis dos últimos anos, pois a oferta será capaz de atender toda a demanda adicional prevista para 2015 e ainda restará uma quantidade adequada para os estoques de passagem.

Oportunidade

Para o especialista da Cepea, os preços movidos pelo câmbio dão um ânimo extra para as vendas da safra 2014/15, que já está sendo colhida no Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além de criar novas oportunidades de negócios.

“Se os produtores cederem um pouco no preço existe a possibilidade de atrair mais compradores. Isso não significa estar perdendo”, diz Alves. “Como a Argentina, que é o nosso principal competidor, está numa situação nada boa, o Brasil aparece como uma oportunidade para negócios.”

Sustentabilidade

A baixa nas cotações das commodities também será um chamariz para o produtor encontrar a tão falada sustentabilidade na produção de grãos. O crescimento dos estoques globais exige novas estratégias. Entre as safras 2005/06 e 2012/13, a demanda internacional por soja cresceu 2,43% diante dos 2,18% da produção global. Na safra passada houve inversão com o aumento de 4% no consumo e a produção 5,9%. De acordo com estimativas da Expedição Safra, o cenário será semelhante nesta temporada, com crescimento de 7,4% na produção e de 4,9% no consumo.

“Depois de anos com preços bons nos grãos, 2015 será com a relação benefício/custo apertada. Se o produtor não tomar cuidado, poderá ser negativo inclusive”, destaca.

No milho, relatório da FCStone aponta a necessidade novas opções de consumo, como o investimento na produção de etanol a partir do cereal.

Principais cadeias

Dos grãos às carnes, setores produtivos têm expectativas diferentes – e até opostas – para este ano. Confira o que esperam os analistas:

Grãos – O ano para a soja começa indefinido, pois ainda é preciso aguardar a colheita da safra da América do Sul, onde pode ocorrer problemas climáticos, e o fim da estimativa da colheita nos Estados Unidos. Porém, independente do clima, as cotações não devem voltar aso patamares dos últimos anos. No milho, é forte a previsão de redução da área na safrinha, pois o consumo continua tímido e, consequentemente, os preços pouco atraentes.

Pecuária – O ciclo relativamente longo indica a continuidade da oferta limitada de carne bovina. As cotações recordes de 2014 devem ser mantidas ou até mesmo superadas. Na suinocultura é esperado um aumento no custo de produção e cotações nos patamares do ano passado. Assim, o setor trabalha para que os plantéis não aumentem significativamente para não gerar cenário semelhante ao da crise de 2012. Na avicultura, as exportações, que consumem um terço da produção nacional, devem continuar firmes e o consumo interno pode aumentar diante do alto preço da carne bovina.

Trigo – 2015 será de recuperação dos prejuízos de 2014, a começar pela perspectiva de preços melhores na entressafra, que deve ter oferta menor em função das perdas provocadas pelo clima adverso do ano passado. Somente no Rio Grande do Sul, um dos principais produtores do país, a perda superou 1 milhão de toneladas.

Pecuária leiteira – A perspectiva é de um ano de aperto. O preço do leite pago ao produtor ao longo de 2014 foi um dos menores dos últimos anos, reflexo do aumento na captação do produto em diversos estados. A expectativa é de que as cotações continuem assim até o meio do ano, quando pode ocorrer redução na oferta.

Açúcar – Os preços do produto devem iniciar movimento de recuperação neste ano. A perspectiva de um déficit de 2,8 milhões de toneladas, reflexo da produção menor no Brasil e na Tailândia, tende a impulsionar as cotações internacionais, em especial no segundo semestre, para quando é esperado um aperto nos estoques globais.

Café – O setor deve continuar instável e qualquer problema climático pode levar os preços a patamares mais elevados. A safra 2015/16, estimada em 50 milhões de sacas, será justa diante do consumo interno e das exportações, projetados em 53 milhões de sacas.

Fertilizantes – A China irá substituir a extinguir a janela de baixas tarifas de exportação de fosfatados e nitrogenados por uma única taxa ao longo de todo o ano. Essa mudança na política comercial irá gerar preços mais competitivos aos produtos, tetos mais baixos ao mercado internacional e facilidade logísticas.

Fonte: Gazeta do Povo

André Amorim

Jornalista desde 2002 com passagem por blog, jornal impresso, revistas, e assessoria política e institucional. Desde 2013 acompanhando de perto o agronegócio paranaense, mais recentemente como host habitual do podcast Boletim no Rádio.

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